Histórias reais do velho mundo

Dois novos livros reabrem feridas irlandesas
Durante a fome na Irlanda, 1 milhão de pessoas morreram e 2 milhões emigraram (Reprodução/Rex Features)

Em 1997, Tony Blair, o primeiro-ministro britânico, fez o primeiro pedido de desculpas formal pelo papel da Grã-Bretanha na fome irlandesa. Entre 1845 e 1855, a Irlanda perdeu um terço de sua população,1 milhão de pessoas morreram de fome e doenças e 2 milhões emigraram. Blair deplorou esta época, em que os governantes em Londres não honraram sua população. Dois livros novos: The Graves are Walking (Os Túmulos Estão Andando), de John Kelly, e The Famine Plot (A Trama da Fome), de Tim Pat Coogan, exploram o papel da Grã-Bretanha na fome e reacendem o debate sobre se as ações do país podem ser consideradas como genocídio.

“The Graves are Walking”, de John Kelly, historiador e escritor de livros de divulgação científica, é uma narrativa envolvente da fome que detalha de maneira vívida a sociedade vitoriana e os fenômenos históricos (naturais e criados pelo homem) que convergiram para formar o desastre. A mão da natureza, conforme ilustrado em ambos os livros, causou apenas parte do problema.

Ambos os autores descrevem detalhadamente a insensatez e a crueldade das políticas da Grã-Bretanha vitoriana em relação a seus vizinhos quase abandonados. O governo britânico, liderado por Sir Charles Trevelyan, secretário-assistente do tesouro, parecia muito mais preocupado em modernizar a economia irlandesa e reformar a natureza “aborígene” da população do país do que em salvar vidas. A Irlanda se tornou o infeliz laboratório para o novo apego vitoriano a princípios de mercado livre, autoajuda e ideais a respeito da formação de nações. Ao longo do livro, Kelly desaprova os trágicos efeitos da insensatez humana, negligência e ideologia vitoriana em causar a fome e nos acontecimentos subsequentes. Ele rejeita a acusação de genocídio. No entanto, Tim Pat Coogan assume uma visão mais radical em “The Famine Plot”

Em sua polêmica história do desastre, Coogan, jornalista e historiador irlandês que, para muitos, é a voz não oficial da história irlandesa moderna, rotula de genocídio a fome e critica outros historiadores irlandeses como revisionistas que estão higienizando a história da fome. Seu argumento mais contundente que sustenta a negligência se encontra no capítulo final, no qual ele relembra as imagens e palavras xenofóbicas geralmente usadas para caricaturizar os irlandeses na Inglaterra vitoriana. Mas ambos os livros argumentam de modo convincente a favor do aprofundamento do entendimento deste acontecimento.The Economist

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