EUA TECNOLOGIA

Conversa compartilhada por serviço da Amazon levanta debate sobre privacidade

EPA/FILIP SINGER

Uma conversa particular que um casal dos Estados Unidos teve na sua casa e que foi gravada e compartilhada sem seu consentimento por Alexa, o assistente digital da Amazon, levantou na semana passada o debate sobre privacidade que acompanha a chamada Internet das Coisas.

Danielle e seu marido, residentes em Portland (Oregon), receberam uma ligação desconcertante de Seattle, a quase 280 quilômetros: um funcionário lhes dizia que tinham sido vítimas de um hacker e lhes sugeriu desligar a conexão com Alexa.

Segundo relatou a mulher à emissora local "Kiro 7", o homem lhes disse que tinha recebido arquivos de áudio gravados dentro da sua casa e, diante da incredulidade do casal, este lhes revelou que tinham estado falando de pisos de madeira, além de enviar-lhes a prova.

"Me senti invadida, uma invasão total da privacidade. Imediatamente disse: 'Nunca vou ligar esse aparelho dentro de casa, porque não confio nele", declarou Danielle à emissora.

O casal vive em uma casa inteligente que tem cada quarto equipado com dispositivos da Internet das Coisas para controlar a temperatura, as luzes e a segurança, neste caso da marca da Amazon, de acordo com a emissora.

Após pedir explicações, a empresa californiana lhes informou que seus engenheiros tinham confirmado nos registros o que o casal alegava e, embora tenham pedido repetidas desculpas, não especificaram por que Alexa tinha cometido esse erro ou se era algo generalizado.

Em uma declaração enviada à Agência Efe, um porta-voz da Amazon explicou que o alto-falante inteligente, Echo, "acordou" ao escutar uma palavra, em uma conversa de fundo, que soava como "Alexa", a senha para dar ordens de voz, e o diálogo que se seguiu depois foi escutado como um pedido de "enviar mensagem".

O dispositivo indagou então "para quem?", e "nesse momento, a conversa de fundo foi interpretada como um nome na lista de contatos do cliente". Quando Alexa pediu uma confirmação desse comando entendeu "correto", de novo, entre o palavreado.

"Apesar da improvável cadeia de eventos, estamos avaliando nossas opções para que este caso seja menos provável ainda", afirmou o porta-voz.

Esse incidente "extremamente raro", segundo a Amazon, se soma a um debate que ganhou notoriedade nas últimas semanas em torno da gestão da informação pessoal que fazem certas empresas com acesso a grandes quantidades de dados.

Não é a primeira vez que um dispositivo inteligente da Amazon protagoniza um incidente de funcionamento deste tipo e, à medida que seu uso se populariza nos lares, também cresce a dúvida sobre se estarão "escutando" em segredo.

Em março, alguns usuários de Alexa chamaram a atenção da Amazon com tuítes e vídeos que se tornaram virais nas redes sobre momentos em que seu assistente digital tinha rido de maneira espontânea ou após entender incorretamente um comando.

Mais grave foi uma vulnerabilidade descoberta pela empresa Checkmarx, que criou um aplicativo para o assistente capaz de gravar conversas e transcrevê-las sem que os usuários se dessem conta, embora depois tenha trabalhado com a Amazon para diminuir essa brecha.

Após o incidente em Portland, organizações como o EPIC (Electronic Privacy Information Center) pediram um maior escrutínio por parte das autoridades sobre os aparelhos domésticos inteligentes que "sempre estão ligados", um mercado no qual participam Google, Apple e Microsoft, entre outras gigantes tecnológicas.

"A Ata Federal de Escutas Telefônicas considera um crime interceptar intencionalmente uma comunicação privada", ressaltou o EPIC, que recentemente testemunhou perante a Comissão de Segurança de Produtos de Consumo sobre os riscos de privacidade presentes no escopo da Internet das Coisas.

Por sua parte, a União Americana de Liberdades Civis (ACLU) considerou que, se o que se diz em casa "é gravado e transmitido a uma empresa, todos dependemos apenas de boas políticas para proteger nossa privacidade".Nora Quintanilla/EFE

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