ONDA DE PROTESTOS

Morte de jornalista se torna símbolo da crise na Nicarágua

Gahona era conhecido por suas reportagens investigativas sobre abuso policial e tráfico de drogas (Foto: Facebook/Angel Gahona)

O jornalista Ángel Gahona cobria a onda de protestos contra o presidente sandinista da Nicarágua, Daniel Ortega, no dia 21 de abril, quando transmitiu ao vivo sua própria morte. A morte de um jornalista, conhecido por suas reportagens investigativas sobre abuso policial e tráfico de drogas, na cidade de Bluefields, colocou a maior crise política nos 11 anos de governo de Ortega no centro das atenções.

O pai do jornalista, que também se chama Ángel, lembra que o filho falava sempre sobre a possibilidade de ser morto. “Se eu aparecer morto um dia, não fique surpreso”, dizia o filho. “Eu não lembro quantas vezes ele me disse que iam mata-lo”, afirma o pai.

Na transmissão ao vivo por smartphone, Ángel Gahona é atingido e cai no chão. “Eu pensei que ele tivesse caído, ou que estivesse brincando. Quando eu vi que ele estava sangrando, eu comecei a gritar”, disse Neyda Dixon, uma jornalista que também estava cobrindo a manifestação. Gahona, de 42 anos, tinha dois filhos. Ele trabalhava para o site El Meridiano.

Os protestos tinham começado por conta de uma proposta do governo de reforma na Previdência Social. No entanto, com a violência policial, o foco das manifestações foi para a retirada de Ortega do poder.

Desde que o ex-revolucionário voltou ao governo, em 2007, programas sociais, como o Fome Zero, beneficiaram muita gente. No entanto, os manifestantes acusam Ortega de transformar a Nicarágua em um regime autoritário de partido único.

No dia 8 de maio, dois jovens foram detidos sob suspeita de matar o jornalista. Eles foram transferidos para a prisão El Chipote. Mas a família e os amigos de Gahona não estão convencidos dessa hipótese, a suspeita deles recai sobre a polícia. Eles acham que as forças de segurança se aproveitaram do caos das ruas para eliminar uma voz ativa da imprensa. Segundo a jornalista Suyen Sánchez, que trabalha na Rádio Única, que estava presente no protesto, a polícia abriu fogo contra os manifestantes e atingiu um jovem de 18 anos, um dos homens detidos na morte de Gahona.

“Nós acreditamos que a polícia matou Ángel para nos enviar uma mensagem. Para dizer a todos os jornalistas para calar a boca e parar de apoiar e de cobrir os protestos”, disse a jornalista Hayzel Zamora, que testemunhou a morte.

Amanda, a mãe de Gahona, diz que a infância do filho, nos anos 1970, ocorreu durante a brutal ditadura de Anastasio Somoza. Isso fez com que ele tivesse um medo profundo da polícia. Mas depois de se tornar um jornalista profissional, Gahona não temia mais as forças de segurança.

Em 1978, Pedro Joaquín Chamorro, um crítico da ditadura de Somoza foi assassinado. Sua morte agitou a indignação pública. No ano seguinte, uma revolução popular, que Ortega ajudou a liderar, derrubou o regime.

Determinada que o nome de Gahona não seja esquecido, Amanda se juntou aos protestos em Manágua, capital do país, marchando com outras mães que carregam a foto de seus filhos assassinados. Na semana passada, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, vinculada à Organização dos Estados Americanos (OEA), concluiu que pelo menos 76 pessoas foram mortas nos protestos. Além disso, 868 pessoas ficaram feridas e 438 estudantes, defensores de direitos humanos e ativistas foram presos.

“Nós perdoamos os assassinos de Ángel. Mas nós queremos a verdade, eu não me importo se eles passarem apenas um dia na cadeia”, disse Amanda. “Eles queriam silenciar a voz de Ángel, mas eles só fizeram com que ela se espalhasse ainda mais”, disse o pai do jornalista.

Nesta terça-feira, 29, a Anistia Internacional vai publicar um relatório sobre os múltiplos casos de violência e repressão da polícia e dos sandinistas. A morte de Ángel Gahona ao vivo já se tornou um símbolo da crise política do país.Agência Brasil

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