VENEZUELA HIPERINFLAÇÃO

Os pobres milionários da Venezuela

Para os venezuelanos, a vida cotidiana é uma luta pela sobrevivência (Fonte: Twitter)

Há dois anos, os venezuelanos compravam uma caixa de frutas de vendedores ambulantes como José Pacheco com 100 bolívares, na época a nota de maior valor no país. Agora, com a hiperinflação 100 bolívares não têm poder de compra.

“Não se pode aceitar notas de 100, 500 ou 1.000 bolívares”, disse Pacheco, cuja barraca humilde fica próxima de um dos principais mercados de Ciudad Guayana, uma cidade no sul do estado de Bolívar, na Venezuela.

Ele agora só aceita notas de 100 mil bolívares, que devido à demanda são difíceis de conseguir. “Caso contrário, teria de levar uma caixa cheia de dinheiro para o banco”, disse.

Segundo o relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado em 23 de julho, a inflação na Venezuela pode atingir 1.000.000% em dezembro. A crise econômica no país compara-se à da Alemanha após a Primeira Guerra Mundial e a do Zimbábue no início da década passada. A previsão do FMI mostra um aumento drástico desde abril do ano passado, quando o FMI previu que a inflação chegaria a 13.000%.

A Venezuela, um país que tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo, vive uma crise econômica há cinco anos, que privou muitos de seus habitantes de comida e medicamentos, com prateleiras vazias nos supermercados. As taxas de criminalidade são altíssimas e os moradores têm medo de sair de casa à noite.

Alejandro Werner, diretor do FMI para as Américas, fez um prognóstico sombrio em um blog. “O governo vai continuar a aumentar o déficit fiscal financiado pela expansão da base monetária e, como resultado, os índices de inflação continuarão muito elevados.”

Para os venezuelanos, a vida cotidiana é uma luta pela sobrevivência. Maigualida Oronoz, uma enfermeira de 43 anos, disse que gasta seu salário mínimo de 5 milhões de bolívares com a compra de um quilo de carne para alimentar os filhos. “Se tivermos um problema de saúde, meu salário não será suficiente para comprar remédios cada vez mais caros.”

Muitos culpam o presidente Nicolás Maduro pela situação dramática do país, que, por sua vez, se defende com o argumento que a Venezuela é vítima de uma “guerra econômica” dos Estados Unidos e da Europa.

Mas apesar da hiperinflação, Maduro mantém-se no poder herdado de Hugo Chávez, o antigo líder da Venezuela, cujo carisma o ajudou a superar momentos difíceis. Maduro, que não tem o carisma de seu mentor, foi reeleito para um mandato de seis anos em maio, embora políticos da oposição e analistas internacionais apontem irregularidades nas eleições.

Entre outras medidas para conter a inflação, Maduro irá emitir novas cédulas sem os últimos três zeros, apesar do ceticismo dos economistas. “É uma solução paliativa”, disse Asdrubal Oliveros, diretor da empresa de consultoria Ecoanalítica, com sede em Caracas. “Daqui a alguns meses a situação voltará a ser crítica.”

Ao contrário da década de 1920 na Alemanha, quando as pessoas transportavam dinheiro em carrinhos de mão para comprar mantimentos, o dinheiro escasso transformou o escambo em uma prática comum na Venezuela.

O fluxo migratório de venezuelanos é cada vez maior. Mais de um milhão de pessoas cruzaram a fronteira com a Colômbia. Na cidade fronteiriça de Cúcuta, alguns venezuelanos mais criativos estão fazendo bolsas com as notas de bolívares e as vendem por 20 mil pesos colombianos.

Segundo especialistas, as enormes reservas de petróleo não ajudarão o país a sair da crise. O setor de petróleo é mal administrado, com falta de investimento, problemas de fluxo de caixa e infraestrutura precária.

A Energy Information Administration (EIA) dos EUA prevê que a produção de petróleo será de apenas 1 milhão de barris por dia este ano e de 700 mil até dezembro de 2019.

Na opinião de alguns analistas, a hiperinflação pode causar a queda de Maduro. “Apesar da instabilidade econômica e política, é possível que as lideranças políticas consigam fazer uma transição democrática para recuperar o país”, disse Oliveros.The Guardian

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