A importância do mito da democracia racial no Brasil


Valores comuns a todos quebrarm o estigma do maniqueísmo racial (Reprodução/Internet)

Ainda que se discorde tanto da existência da democracia racial, como do homem cordial no Brasil, não se pode negar a importância da fixação desses mitos. A importância do mito da democracia racial no Brasil tem valor à medida que serve para fixar a expectativa de conduta a ser seguida pelo homem médio que compõe a sociedade. O mito, então, funciona como um desejo da sociedade sobre algo a ser concretizado, e não simplesmente como uma mentira.

No Brasil, diferentemente do que aconteceu em outros países racialistas, a força do mito da democracia racial fez com que jamais se tolerasse neste país qualquer tipo de limitação de direitos baseado na cor da pele. Não há qualquer proibição de que os negros dividam com os brancos a vizinhança em prédios luxuosos ou, então, que compartilhem da pobreza nas favelas. Essa, talvez, seja uma das funções do mito: incentivar, no imaginário social, a intolerância geral à discriminação.

Manifestações isoladas de preconceito e de discriminação, por outro lado, sempre existirão, em qualquer sociedade, porque não se pode dominar a esfera do pensamento individual. Mas as leis e os costumes sociais no Brasil já agem incessantemente para impedir que o preconceito se propague e se transforme em discriminação ou racismo. O mito serve como freio na conduta humana, fixando o paradigma do comportamento que se espera do homem médio e o modelo da atitude e das reações que devem ser tomadas e seguidas.

Desse modo, atribuir toda a culpa das desigualdades sociais sofridas pelo negro ao preconceito e à discriminação é uma redução simplista do problema. Apesar de existentes, o preconceito e a discriminação no país não serviram para impedir a formação de uma sociedade plural, diversa e miscigenada, na qual os valores nacionais em grande parte se identificam com os valores da comunidade negra. E, sobretudo, não serviram de impedimento para que muitos pardos e pretos conseguissem alcançar postos de destaque nos mais amplos espectros sociais, como na política, na magistratura, na universidade, nos esportes e nas artes. Não é à toa que já tivemos o nosso primeiro presidente negro no Brasil, Nilo Peçanha, no ano de 1909, exatos cem anos antes da eleição do Barack Obama.

Cotas raciais: Brasil vs. EUA

Não podemos incidir no erro de querer mitigar as diferenças entre o Brasil e os Estados Unidos. Muitos autores que escreveram sobre as ações afirmativas procuram destacar que as diferenças entre os países residem tão-somente na forma de encarar o problema: os Estados Unidos fizeram a opção por não usar de subterfúgios, atacando diretamente a questão, enquanto que, no Brasil, aparentemente não se discute o tema e, portanto, se difunde a idéia de que vivemos em um paraíso racial.

O raciocínio realizado é sofístico e válido apenas superficialmente. As diferenças existem, são muitas, e por isso ensejam formas diferentes de encarar a realidade. O fato de em ambos existir preconceito e discriminação não significa que a origem do preconceito esteja no mesmo fato: a ancestralidade africana. No Brasil, muitas vezes a ascendência africana pode ser suavizada, outras vezes esquecida, seja por questões econômicas — a assertiva de que no Brasil negro rico vira branco e pobre branco vira negro — seja pelo fenótipo apresentado — a chamada válvula de escape do mulato.

Devemos observar o Brasil como exemplo para o mundo do século XXI, quando observamos tantos conflitos étnicos, baseados em supostas diferenças entre os seres humanos. Qual seria mesmo a diferença essencial entre um judeu e um alemão? Entre um árabe e um judeu? Enfim, o convívio harmônico entre brasileiros natos e imigrantes das mais diferentes culturas, religiões e cores é um ativo absolutamente estratégico nesse século de tantos conflitos de culturas, povos e religiões. As tentativas de racialização por aqui colocam em risco justamente o que temos de diferente dos outros países. É isso que queremos para o Brasil?

Fontes: Instituto Millenium

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