Líbia: o que vem depois de Khadafi?


Segundo rebeldes, Khadafi teria sido baleado em sua cidade natal, Sirte (Reprodução/AP)

Nesta quinta-feira, 20, um repórter da BBC na Líbia entrevistou um dos rebeldes do Conselho Nacional de Transição, que lhe disse que Muammar Khadafi havia sido capturado em Sirte, segurando uma pistola dourada. Foi indicativo que, na medida em que ninguém sabia nada sobre o destino de Khadafi, a versão do rebelde poderia muito bem ser verdade. Houve também relatos de que Khadafi estaria morto ou baleado nas duas pernas, ou ainda escondido no deserto, e que Sirte teria sido tomada pelos rebeldes. Uma foto de celular horrível atribuída à agência France Presse poderia ser ele ou o seu cadáver sangrento. Depois de uma ou duas horas, o governo interino da Líbia confirmou a notícia: Khadafi está morto. A foto de celular foi substituída por um vídeo do que parecia ser seu corpo, semi-despido, sendo arrastado por uma multidão.

Mas aqui estão algumas perguntas que já podemos levantar: se ele foi morto, em que circunstâncias? Como prisioneiro ou criminoso em fuga? Sua morte aconteceu durante um ataque da Otan, ou ele foi baleado em um tiroteio com rebeldes? Ele foi capturado vivo, e depois morto? Quem do seu círculo de apoiadores mais íntimo sobreviveu e foi capturado? Esses indivíduos serão julgados, e por quem?

Acima de tudo, o que vem depois? Líbios sofreram terrivelmente sob o regime de Khadafi durante décadas, e também no período que antecedeu a sua queda, enquanto o ditador tinha forças para estancar revoltas em Benghazi e Misrata. Seria um erro retratar os eventos com muito otimismo e ignorar, por exemplo, o que pode acontecer nos próximos dias triunfantes para os civis de Sirte (o Washington Post publicou um relatório alarmante sobre as condições sombrias dos hospitais da cidade natal de Khadafi). Há também relatos pouco animadores sobre condições desumanas de trabalhadores imigrantes e das lutas internas no seio do Conselho Nacional de Transição. Talvez tais circunstâncias irão levar o país rumo a um futuro democrático brilhante, mas isso nem sempre tem sido o caso. Pode-se comemorar uma vitória, mas é preciso ser cauteloso sobre suas repercussões de longo prazo.

Países do Ocidente também não podem esquecer seu próprio papel na revolução líbia. Os líbios reconquistaram seu país com suas próprias mãos e agora irão reconstruir o seu próprio futuro. Mas os planos e as bombas ocidentais ajudaram, e a Otan esteve envolvida. O Ocidente não quis abandonar o povo de Benghazi à própria sorte quando a revolução começou, mas e agora, o que é sua responsabilidade para que o país chegue a uma resolução pacífica depois desta tempestade?

Fonte: New Yorker

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