Pragmatismo ao invés de política


Postura pragmática foi responsável pelo crescimento econômico do Brasil na última década

“Agora é nossa vez”. A frase vem sendo repetida por jovens brasileiros essa, expressando esperanças com o crescimento econômico do Brasil. O país vive agora picos nas vendas de iates, apartamentos de luxo e bolsas Louis Vuitton para os ricos. Há mais contas de telefones celulares do que brasileiros no país. Bilhões adquiridos em exportações para a China. Profundas reservas de petróleo.

E, principalmente, um declínio na desigualdade do país.

O clima efervescente do Brasil foi capturado num recente anúncio do uísque Johnnie Walker, que atraiu mais de meio milhão de espectadores em seis semanas no YouTube. O anúncio mostrava montanhas do Rio de Janeiro se transformando em um enorme colosso. “O gigante não está mais adormecido. Keep Walking, Brazil”, dizia o comercial.
Não foi sempre assim. Até a metade da última década, o país vivia sua própria versão da crise econômica que agora assola o Ocidente: com dívidas, inflação galopante, e falta de empregos. Naqueles dias, os países ricos tinham vários conselhos para o Brasil. Então é natural que agora o mundo queira saber os conselhos que o Brasil possa ter para seus aliados econômicos no Ocidente.
A resposta que surge é simples de ser dita e difícil de ser alcançada: para prosperar, o Brasil teve que despolitizar sua busca por uma economia melhor. Líderes tiveram que deixar suas ideologias de lado. Fatos tiveram que se tornar mais importantes que princípios. E uma espécie de consenso pragmático entre esquerda e direita foi formado – o de que tanto um mercado agitado quanto um governo ativo são essenciais para um crescimento econômico duradouro.
“Existe uma espécie de pacto no qual devemos ser pragmáticos, ou tudo retornará a um período que ninguém mais quer viver”, diz Marcos Oliveira de Carvalho, fundador da Neoprospecta, uma empresa brasileira de biotecnologia. O Brasil tornou a economia política menos sagrada, e isso é algo que as economias em apuros nos países ricos devem considerar.
Para os brasileiros, não há exemplo mais claro dessa nova política, que o período de Lula à frente da presidência, entre 2002 e 2010. Lula era um líder sindical que ficou famoso combatendo a selvageria do mercado livre, até que – uma vez na presidência – deu uma virada de 180 graus, seguindo o legado de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, defendendo uma política pró-negócios, somada a uma agenda ambiciosa para as classes mais pobres.
Como muitos brasileiros afirmam, a transformação pessoal de Lula foi, ao mesmo tempo, uma inspiração e uma metáfora, para os braços abertos que o Brasil estendeu ao capitalismo. “Apenas um presidente que fora antes um trabalhador poderia trazer o mercado ao Brasil”, diz o reverendo Marcelo Fernandes de Aquino, um padre jesuíta que comanda a Universidade do Vale dos Sinos, no sul do país.
Hoje, o Brasil está ao mesmo tempo buscando o que parecem ser revoluções contraditórias. Por um lado, está liberando o mercado e trabalhando para dar às empresas os incentivos que elas precisam para crescer, contratar e lucrar. Ao mesmo tempo, está combatendo a pobreza, se apoiando em leis trabalhistas, que são ineficazes, mas que dão alguma segurança à população mais pobre, despejando dinheiro nas regiões mais carentes. Os números falam por si só: a economia brasileira teve um crescimento de mais de 7% no ano passado, mas, ao contrário de outros países de alto crescimento, o Brasil está diminuindo seu famoso abismo entre ricos e pobres. Como diz o reverendo, “O Brasil está construindo uma economia de mercado, socialmente orientada para o bem comum”.
João Carlos Ferraz, vice-presidente do BNDES, declarou em uma entrevista que os setores públicos têm que chegar a uma espécie de consenso a respeito de um “triângulo de progresso”: “estabilidade, investimento, e inclusão econômica”. O governo trabalha para tornar a vida dos negócios mais fácil, mantendo a inflação baixa, e diminuindo a regulação. Por outro lado, os negócios devem investir de maneira pesada e se concentrara na criação de empregos no país, não na China ou na França. Há uma aceitação geral da ideia de que prosperar isoladamente é uma ilusão. “É necessária a participação da sociedade”, diz Ferraz.
Rodrigo Paolucci, um empresário de 25 anos de Belo Horizonte, diz que, mesmo com a esquerda abraçando o capitalismo, uma nova geração de empresários aceita a ideia de que “para crescer, precisamos resolver o problema da desigualdade. Você não pode ser um grande país e uma grande economia, se tem 20 milhões de pessoas trabalhando e o resto da população sendo sustentada por esses 20 milhões”. Além disso, ele acredita que os outros 170 milhões de brasileiros são um mercado em potencial, e que torná-los bem sucedidos o tornará bem sucedido.
O Brasil, claramente, não está sozinho em seu pragmatismo, que também se manifesta nos outros países do grupo dos BRICs. Foi a China que se permitiu ser um país capitalista bem sucedido, enquanto mantém grandes partes de seu sistema comunista. Foi um economista indiano, Manmohan Singh, que agora ocupa o cargo de primeiro-ministro, que trabalhou fielmente para o regime socialista de seu país até que novos fatos o tornaram um símbolo das reformas de mercado.
Países ocidentais podem aprender algo com essas reviravoltas. Quando as coisas ficaram complicadas no Brasil, na Índia e na China, nem o mercado, nem o Estado foram tratados como intocáveis. Cada um passou a ser visto como um meio para algo maior: uma sociedade que prospera.
Fonte: The New York Times

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A surpreendente cratera de Xico

Por que não enxergamos estrelas verdes ou roxas?

Egípcia posa nua em blog e provoca indignação