JAPÃO MATERNIDADE

A escolha entre maternidade e carreira profissional no Japão

Mulheres que optam por seguir trabalhando após se tornarem mães são alvo de críticas no país (Foto: Pinterest)

Takako Suzuki,de 32 anos, é a mais jovem parlamentar dentre os 707 parlamentares do Japão. No ano passado, Suzuki anunciou que ela e seu marido estavam esperando o primeiro filho. Porém, o anunciou trouxe mais polêmica que apoio.

Em entrevista ao New York Times, ela conta que recebeu mensagens com críticas em diferentes plataformas online. “Você está deixando o trabalho?”, perguntou uma; “Falta a você a consciência necessária a uma pessoa com cargo público”, disse outra mensagem.

Suzuki argumenta que jamais tirou um dia de folga durante as atividades do Parlamento e que nunca fugiu de nenhuma de suas funções públicas. Em setembro, quando ela deu à luz uma menina saudável, os familiares de Suzuki passaram a se revezar para tomar conta da criança enquanto ela se desdobrava em viagens entre Tóquio e Hokkaido, o distrito eleitoral que ela representa. Isso porque o Japão não concede licença maternidade a mulheres parlamentares.

Quase diariamente, Suzuki é alvo de questionamentos por conta de sua maternidade. “Por que ela trabalha quando tem um bebê para tomar conta?”, ela recorda ter ouvido. “Eu escuto muito ‘Tenho pena do seu bebê’ ou ‘Você não tem de estar em casa com seu bebê’ ou ‘Uma mãe não estar com seu filho neste período pode afetar negativamente o crescimento da criança’. É desanimador”, diz Suzuki, em entrevista ao ‘NYT’.

Suzuki optou também por não amamentar, outra decisão que gerou críticas. “Eu me esforço muito para explicar que minha filha está bem e que estamos indo bem. Se eu não tranquilizá-los, outras mães que segurem meus passos terão de enfrentar críticas”, diz Suzuki.

O preconceito em relação a mulheres com filhos no parlamento teve um reflexo negativo na política do Japão. Embora seja a terceira economia mundial, o país está muito atrasado quando se trata de representação feminina na política.

Segundo um ranking divulgado em 1º de janeiro deste ano, pela organização União Interparlamentar, o Japão está em 158º lugar dentre 193 países no quesito representação feminina na política. A Câmara do país tem apenas 10% dos assentos ocupados por mulheres (percentual que sobe para 20% no Senado).

Liderando o ranking, está Ruanda, com 61,3% de representação feminina na Câmara e 38,5% no Senado. Em segundo lugar está a Bolívia, com 53,1% e 47,2%, respectivamente. Completando o top cinco estão três países de sistemas unicamerais: Cuba com percentual de 48,9% de representação feminina; Nicarágua (45,7%) e Suécia (43.6%). O Brasil está na 152ª posição, com 10,7% de representação feminina na Câmara e 14,8% no Senado.

O preconceito contra mães que optam por manter a carreira profissional não é restrito às parlamentares no Japão – país onde o machismo ainda está incrustado na sociedade. Mulheres que após terem filhos continuam no mercado de trabalho, em vez de se dedicar completamente à maternidade costuma ser alvo de críticas, com as ouvidas por Suzuki.

Em 2016, uma pesquisa sobre mães trabalhadoras, conduzida pelo governo japonês, indicou uma mudança histórica na opinião pública. Pela primeira vez, mais de 50% dos entrevistados se disseram a favor de mulheres que optam por manter a carreira profissional após se tornarem mãe.

A mudança na opinião em relação às mães trabalhadoras relfete um esforço do governo do primeiro-ministro, Shinzo Abe, para estimular a presença de mães no mercado de trabalho. Abe lançou uma iniciativa que tem como objetivo ter 30% dos postos de liderança no país ocupados por mulheres.

Atualmente apenas 8% dos cargos de chefia são ocupados por mulheres no Japão, percentual bem inferior da média mundial de 22%, que também é considerada baixa. Segundo um artigo do jornal Japan Times, no Japão as mulheres ocupam principalmente cargos de assistentes.

A iniciativa de Abe visa conter o vertiginoso déficit populacional no país, que a cada ano registra um número menor de nascimentos. O encolhimento na população está diretamente ligado ao preconceito contra mães no mercado de trabalho, já que muitas japonesas obrigadas a escolher entre a carreira profissional e a maternidade optam pela primeira opção.New York Times

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