APÓS OITO DIAS NO CARGO

‘Número dois’ do MEC é exonerada do cargo

Demissão vem na esteira de uma série de polêmicas envolvendo o ministério (Foto: Twitter/Reprodução)

Apontada como “número dois” dentro do Ministério da Educação (MEC), Iolene Lima foi exonerada do cargo de secretária-executiva da Pasta nesta sexta-feira, 22, apenas oito dias após ser alçada ao posto.

A medida vem na esteira de uma série de polêmicas envolvendo o ministério, além de uma intensa disputa interna na Pasta.

Iolene foi anunciada como secretária-executiva do MEC no último dia 14 deste mês. Especialista em orientação educacional, ela é uma figura conhecida no meio evangélico por sua atuação como diretora do Colégio Inspire, em São José dos Campos, São Paulo – instituição mantida pela Igreja da Cidade, que é ligada à Igreja Batista.

Conforme noticiou o portal iG, a ascensão de Iolene ao posto gerou polêmica, especialmente após vir à tona o vídeo de uma entrevista concedida em 2013, ao canal de TV evangélico Feliz Cidade, no qual ela pregava que a Educação deveria ser “baseada na palavra de Deus”.

“Uma educação baseada em princípios é uma educação baseada na palavra de Deus. Onde a geografia, a história, a matemática vai ser vista sob a ótica de Deus. Então o aluno vai aprender que o autor da história é Deus. O realizador da geografia é Deus. Deus fez as planícies, Deus fez os relevos, Deus fez o clima”, disse Iolene.

Em outro trecho da entrevista, Iolene prega que o currículo seja organizado “sob a ótica das escrituras”. “Uma coisa é o aluno ouvir: ‘Olha, você não pode escovar os dentes com a torneira aberta’. Outra coisa é ouvir: ‘Olha, você não pode porque tem um princípio na bíblia que diz que você tem que cuidar de tudo, que é o princípio da mordomia. Deus deu, mas não é para você esbanjar, é para você cuidar”, disse Iolene.

Série de polêmicas

A controvérsia gerada pela visão de Iolene em relação à Educação coroou uma série de polêmicas anteriores envolvendo o MEC, entre elas a orientação do ministro Ricardo Vélez a diretores de instituições públicas e privadas para que crianças fossem filmadas cantando o hino nacional, sem incluir autorização prévia dos pais.

Segundo a orientação, o hino deveria ser cantado após a leitura de uma carta do ministro na qual ele reproduzia o slogan de campanha de Jair Bolsonaro “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” – uma medida que fere o artigo 37 da Constituição, que determina que “a publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos”.

Outra polêmica envolvendo a Pasta inclui a mudança no edital do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que excluía de livros escolares pautas consideradas “de esquerda” pelo governo, como o combate à violência à mulher e a promoção de culturas quilombolas e do povo do campo, além de retirar a exigência de livros com referências bibliográficas nas escolas.

Também geraram controvérsia as declarações dadas por Vélez, que ao ser nomeado para a Pasta, afirmou que Bolsonaro era “dono do Enem” e prometeu submeter ao crivo do presidente o conteúdo das provas aplicadas.

Disputa interna

A exoneração de Iolene também reflete uma intensa disputa interna no MEC, travada por três grupos: o primeiro é tido como o grupo técnico da Pasta e é composto, principalmente, por profissionais do Centro Paula de Souza, uma rede de escolas técnicas e faculdades de tecnologia ligada ao governo de São Paulo; o segundo grupo é composto por militares alçados à Pasta por Vélez; o terceiro é formado por ex-alunos de Olavo de Carvalho, conhecidos internamente no MEC como “olavetes”.

Diante das recentes polêmicas na Pasta, o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com o ministro Vélez e determinou que ele realizasse demissões no órgão, o que foi concretizado no último dia 11, quando seis servidores do MEC foram exonerados. As exonerações tiveram como alvo militares e ex-alunos de Olavo de Carvalho que vinham gerando insatisfação no governo.

Porém, as demissões também atingiram Luiz Antônio Tozi, que é ligado ao grupo técnico e foi exonerado do cargo de Secretário Executivo da Pasta. Considerado por olavetes “um tucano infiltrado no MEC”, Tozi foi substituído por Rubens Barreto da Silva e, em seguida por, Iolene Lima.

Iolene passou oito dias no cargo e sua nomeação ainda não tinha sido oficializada no Diário Oficial da União (DOU). Mesmo assim, ela chegou a acompanhar Vélez em compromissos oficiais, como a visita oficial do ministro a Suzano, na Grande São Paulo, para prestar solidariedade às vítimas do ataque a tiros em uma escola.

Nesta sexta-feira, Iolene se manifestou sobre a exoneração por meio de uma postagem em sua conta oficial no Twitter.

“Diante de um quadro bastante confuso na Pasta, mesmo sem convite prévio, aceitei a nova função dentro do ministério. Novamente me coloquei à disposição para trabalhar em prol de melhorias para o setor. No entanto, hoje, após uma semana de espera, recebi a informação que não faço mais parte do grupo do MEC”, escreveu Iolene.

As disputas e as polêmicas evolvendo a Pasta colocam pressão sobre Vélez, que vem sendo alvo de pedidos para deixar o comando do MEC. Isso porque, enquanto o órgão se ocupa com nomeações polêmicas e disputas internas, outros problemas graves envolvendo a Educação são deixados de lado. Além disso, a falta de coesão na Pasta sugere a falta de um projeto, como apontou o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A surpreendente cratera de Xico

Por que não enxergamos estrelas verdes ou roxas?

Egípcia posa nua em blog e provoca indignação