AMÉRICA LATINA SAÚDE

Organizações dos EUA financiam grupos antiaborto na América Latina

Somente o grupo salvadorenho Fundación Sí a la Vida recebeu R$ 151 mil (Foto: Fundación sí a la Vida)

Grupos antiaborto dos Estados Unidos vêm financiando campanhas para restringir o acesso ao aborto em países da América da Latina e do Caribe. A informação foi revelada em uma investigação do jornal Guardian.

De acordo com a investigação, milhões de dólares foram destinados à região, que tem algumas das leis mais draconianas do mundo em relação ao aborto. O dinheiro enviado tinha como objetivo coibir os esforços para a descriminalização do aborto e obstruir o acesso a clínicas que realizam o procedimento em casos autorizados pela lei.

O principal financiador é o grupo Human Life International (HLI), uma organização católica com sede no estado da Virginia. Segundo documentos obtidos pelo Guardian, entre 2008 e 2014, o grupo enviou mais de US$ 600 mil (cerca de R$ 1,9 milhão) para grupos antiaborto caribenhos e latino-americanos. Somente o grupo Fundación Sí a la Vida, de El Salvador, recebeu US$ 47 mil (cerca de R$ 151 mil) no período. Além disso, nas últimas quatro décadas, o HLI ajudou a desenvolver uma rede de grupos antiaborto que hoje atua em 20 países.

A investigação também revelou que outros dois grupos antiaborto dos EUA, o 40 Days for Life e o Heartbeat International, estão treinando ativistas antiaborto na região, abrindo centros que têm como missão desestimular grávidas que pretendiam abortar. Eles também enviam fartas remessas de dinheiro a grupos antiaborto locais.

“Sempre fomos familiarizados com a oposição, mas nos últimos anos vimos os grupos antidireitos se tornarem mais organizados. Eles se profissionalizaram. Não são mais senhoras idosas com rosários. São advogados engajados, com discursos sofisticados que estão fazendo o lobby (antiaborto). Eles têm dinheiro, têm conexões nos tribunais, no Congresso”, diz Natalia Acevedo Guerrero, do grupo Profamilia, a maior entidade privada da Colômbia de pesquisa sobre saúde reprodutiva e orientação sobre o aborto.

Parte do financiamento promovido pelos grupos americanos é destinada à criação de “centros para crises na gestação”. Tais centros foram trazidos para a América Latina e Caribe nos anos 1980. Críticos afirmam que eles são criados para persuadir as mulheres a não abortar. O número de centros deste tipo na região mais que dobrou entre 2011 e 2015, chegando a atuais 130 centros.

Segundo Adolfo Castañeda, diretor do HLI para regiões hispânicas, cada centro opera de forma independente, provendo acesso a materiais em espanhol, como cartilhas, vídeos, cursos online, workshops, conferências e programas de rádio. Castañeda diz que o HLI trabalha junto a assessores jurídicos que fornecem a ativistas e advogados locais estratégias para “educar e combater politicamente leis contra a vida e estimular leis pró-vida”.

No entanto, agentes de saúde reprodutiva e ativistas pró-aborto alertam que os centros para crises na gestação são criados de forma a se parecer o máximo possível com clínicas normais, o que leva muitas mulheres a procurar o local por engano. Em condição de anonimato, o diretor de uma clínica de aborto legal de Bogotá disse à reportagem do Guardan que os ativistas dos centros fazem com que as grávidas inclinadas a abortar “se sintam culpadas, estigmatizadas, intimidadas e pressionadas a levar a gravidez adiante”.

Outra prática é realizar rezas e protestos em calçadas das clínicas de aborto legal. Segundo o diretor que conversou com a reportagem, “as mulheres não deixam de procurar o aborto”. “Em vez disso, elas buscam serviços em clínicas onde não há presença dos manifestantes antiaborto. A maioria dessas clínicas não é legalizada e segura”, disse o diretor.

Cerca de 75% dos abortos feitos na América Latina e no Caribe são ilegais e uma média anual de 760 mil mulheres são tratadas por complicações provenientes de abortos clandestinos.The Guardian

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