COLÔMBIA PAZ

Ex-guerrilheiros das Farc aprendem profissões para voltar à vida civil

O ex-combatente Danilo Ortiz, que agora desempenha o ofício de sapateiro. EFE/Juan Carlos Gomi

Félix Salcedo, de 38 anos, perdeu parte do seu braço esquerdo manipulando explosivos quando era guerrilheiro das Farc, mas esta incapacidade não o impede de fumigar, com a mão direita, uma plantação de abacaxis que, há poucos meses, se transformou no seu emprego e nova casa.

Salcedo é um dos 250 membros das Farc que tentam aprender um ofício em Água Bonita, um dos 26 assentamentos criados pelo governo para que os ex-guerrilheiros retornem à vida civil após deixarem as armas.

O novo "povoado", batizado como "Héctor Ramírez" em homenagem a um guerrilheiro, é um dos Espaços Territoriais de Capacitação e Reincorporação (ETCR), que substituem as denominadas zonas veredais transitórias de normalização (ZVTN), onde no início do ano os membros das Farc se reuniram para deixar as armas.

Entre montanhas e barrancos, o processo de urbanização da zona rural de La Montañita, a 35 quilômetros de Florencia, capital do departamento do Caquetá, conta com 60 casas construídas com placas compostas por uma mistura de cimento e celulose.

Salcedo trabalha no principal projeto econômico do assentamento, o cultivo de abacaxi, e outros companheiros seus, como Gloria Mora, também aprendem a plantar mandioca, bananas e tomates nas férteis terras de Caquetá.

"Alguns que estão aqui já eram agricultores, eu venho da cidade. Agora começamos uma nova vida e estamos aprendendo agricultura", afirma a ex-guerrilheira, que durante 22 anos foi enfermeira nas frentes das Farc.

Além do trabalho agrário, o acampamento oferece oportunidades de aprendizagem em carpintaria, sapataria e piscicultura, entre outras atividades.

Para isso, os ex-membros da guerrilha contam com o apoio de diferentes instituições públicas e privadas.Este é o caso de Richard Camelo, um jovem de Pereira, na região cafeeira do centro do país, que dá aulas de carpintaria aos ex-guerrilheiros.

"Não pertenço a nenhum grupo armado, sou instrutor dos rapazes. Acredito na mudança, na sua vontade, acredito em uma nova Colômbia em paz", responde taxativamente quando perguntado sobre seu altruísmo convicto.

"Eles chegam às cinco da manhã e ficam até às cinco da tarde. Querem montar sua empresa e esse empreendedorismo é o que me motiva. É o melhor pessoal para contratar", acrescenta.

Um dos seus alunos, conhecido como "El Paisa", passou 18 anos nas Farc e espera que seus novos conhecimentos de carpintaria o ajudem a ganhar a vida "trabalhando em comunidade".

Junto à atividade produtiva, a colônia também conta com áreas de educação com cinco salas de aula no lado esquerdo do povoado.Lá, desde o final de agosto, Rosa María Betancurt dá aulas de alfabetização para adultos a 15 alunos "com vontade de aprender".

Enquanto desenha um grande mapa da Colômbia em uma das paredes da sala, Rosa explica que se sente feliz educando os antigos guerrilheiros, já que são muito colaboradores e trabalhadores.

"Para mim, o mais importante é que aprendam a escrever bem, tenham boa ortografia e boa caligrafia... e se querem ser políticos algum dia, devem aprender a escrever e a ler".

Também no lado cultural, perto das plantações de banana, o assentamento conta há uma semana com uma biblioteca pública com mais 3.500 volumes, que recebe o nome de Alfonso Cano, que foi líder máximo das Farc.EFE

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