IRAQUE ABANDONO

Iraque negligencia cidades retomadas do Estado Islâmico

Moradores de Mossul (foto) e Fallujah se queixam de abandono (Foto: UNHCR/Ivor Prickett)

Certa noite, à margem do rio Tigre, Adil Jumaili e sua filha observaram as ruínas da cidade de Mossul do outro lado do rio. O cenário era desolador. A casa deles, assim como outras 8 mil casas e prédios foram destruídos, quando as tropas iraquianas recuperaram a cidade ocupada pelos jihadistas do Estado Islâmico (Isis) em julho. O hospital de Mossul, considerado um dos melhores do Iraque, o prédio do governo, as escolas e as ruas medievais com suas madraças e mosteiros também não haviam sido poupados da violência da guerra.

O bombardeio preciso da coalizão liderada pelos EUA destruiu menos a área leste de Mossul, que está se recuperando com rapidez. Mas na parte a oeste da cidade devastada pelos ataques da artilharia e as “táticas de aniquilação”, uma manobra para cercar os combatentes do Isis a fim de impedi-los de fugir, os corpos ainda estão sendo retirados dos escombros e o cheiro de putrefação paira no ar. Segundo a Anistia Internacional, cerca de 6 mil civis morreram nos combates.

Além de Mossul, todas as cidades habitadas por árabes sunitas, que o Exército iraquiano e as tropas de coalizão recapturaram dos jihadistas estão abandonadas. Em Fallujah, a cerca de 400 km ao sul, um ano depois de a cidade ser libertada, seus moradores reclamam da negligência do governo. “Estamos vivendo em uma grande prisão”, disse um deles.

O autoproclamado “califado” do Isis foi um desastre para os sunitas do Iraque. Em 5 de outubro, o governo iraquiano anunciou a libertação da cidade de Hawija do controle do Estado Islâmico. Com mais essa vitória o Isis ocupa agora apenas um trecho na fronteira com a Síria. Mas além de fornecer serviços básicos, o governo liderado por uma maioria xiita não reconstrói as zonas libertadas ou reintegra as populações ao sistema político central. Com uma eleição prevista para abril, a atenção do governo concentra-se no sul do país povoado por árabes xiitas.

Graças à ajuda externa o fornecimento de água e de energia elétrica em Fallujah foi restabelecido. O Kuwait pretende organizar uma conferência sobre a reconstrução do Iraque no início de 2018 e a ONU anunciou que irá destinar US$1 bilhão para a “estabilização” de Mossul. Porém, os baixos preços do petróleo significam que o Iraque e os países do Golfo Pérsico têm recursos escassos.

Em Mossul e Fallujah a taxa de desemprego é dramática. Homens com diplomas universitários varrem as ruas ou retiram os escombros por US$20 por dia. Em Mossul, os médicos e os professores não recebem salários, porque as autoridades de Bagdá suspeitam que eles tinham ligações com os jihadistas. Em Fallujah, 4.600 policiais foram demitidos ao voltarem para a cidade.

Os habitantes de Mossul recordam momentos melhores durante a ocupação do Isis. “Os jihadistas do Isis eram mais honestos e organizados”, disse um deles. Em Fallujah, um coronel sunita idoso lembra com nostalgia a “era de ouro” do ditador Saddam Hussein. Ainda assim, as autoridades iraquianas descartam a possibilidade de os sunitas se rebelarem contra o governo. O excesso de confiança é perigoso.A conquista de Mossul e Fallujah pelo Estado Islâmico em 2014 é uma clara evidência que o ressentimento pode se transformar rapidamente em revolta.The Economist

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