JAPÃO Fukushima

Após colapso nuclear, Fukushima aposta em turismo

Mais de 18 mil pessoas morreram no incidente de 2011 (Foto: Wikimedia)

Até hoje, quase oito anos depois que um terremoto e, em seguida, um tsunami causaram o derretimento de três dos seis reatores nucleares da usina de Fukushima Daiichi, o legado físico do desastre ainda é visível.

As casas destruídas espalham-se pelos lugares onde, em 11 de março de 2011, o terremoto e o tsunami mataram mais de 18 mil pessoas em três prefeituras no nordeste do Japão, entre as quais 1.600 em Fukushima, além de provocar o acidente nuclear.

A cidade estará sempre associada a um dos piores desastres nucleares do mundo, mas alguns moradores estão incentivando o turismo para mostrar que a vida em Fukushima retomou seu ritmo normal.

“As pessoas rejeitam a ideia que vivem em um lugar com uma história sombria”, disse Shuzo Sasaki, um funcionário do governo e guia da agência de turismo Real Fukushima.

“Não existe mais o perigo de contaminação radioativa em Fukushima”, acrescentou Sasaki. Há pouco tempo ele recebeu um grupo de alunos do Instituto de Tecnologia da Geórgia e no próximo ano a agência irá receber uma excursão de alunos dinamarqueses.

O desafio enfrentado pelos moradores que querem mudar a imagem de Fukushima refletiu-se na série da Netflix Dark Tourist, um documentário realizado pelo jornalista neozelandês David Farrier.

Em um episódio, Farrier e alguns turistas estrangeiros passearam pela área da usina em um micro-ônibus com uma expressão angustiada no rosto sempre que a leitura do contador Geiger mostrava um aumento na radiação ionizante.

Ao se sentarem em um restaurante para almoçar, Farrier comentou que a comida poderia estar contaminada, embora o nível oficial de substâncias radioativas nos alimentos em Fukushima seja bem menor do que o nível da União Europeia e dos EUA.

Em algumas áreas de Fukushima, os níveis de radiação atingiram a meta governamental de 0,23 microsieverts por hora, ou 1 milisievert por ano, uma meta baseada na hipótese da exposição ao ar livre de uma pessoa durante oito horas e de 16 horas em ambientes fechados por dia.Em comparação, a exposição média global de seres humanos à radiação ionizante é de 2,4 a 3 milisieverts por ano.

Na opinião de Karin Taira, uma guia da agência Real Fukushima e gerente da pousada Lantern House no distrito de Odaka, o documentário da Netflix exagerou o risco da exposição à radiação e transmitiu uma imagem negativa da cidade.

Porém, as lembranças da tragédia não se apagaram. Em uma colina com vista para o oceano Pacífico, um memorial exibe a relação dos nomes das 182 pessoas mortas na cidade de Namie atingida pelo tsunami. Na escola primária em Kumamachi, a 2 quilômetros da usina nuclear, os livros, mochilas e outros pertences espalham-se pelas salas de aula, uma triste lembrança do momento em que os professores receberam ordens de retirar as crianças às pressas da escola. Na calçada, o mato e as ervas daninhas disputam o espaço com javalis e guaxinins.

Só 150 mil pessoas voltaram a morar em áreas de Fukushima consideradas seguras pelo governo. Outros reconstruíram as vidas em outros lugares e não veem razão para retornar.

Mas algumas cidades e vilarejos da região de Fukushima estão se recuperando das consequências do acidente nuclear. Este ano uma praia a 40 km ao norte da cidade foi reaberta ao público após sete anos. Os agricultores voltaram a cultivar arroz e outras culturas. Os pescadores retomaram suas atividades. E as autoridades locais construíram usinas de energia solar nos campos abandonados.

A cidade de Fukushima sediará os jogos de beisebol e futebol durante os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020 e o estádio J Village, usado como acomodação para milhares de pessoas envolvidas no trabalho de descontaminação da área, voltou à sua função original de estádio de futebol.

Na cidade de Okuma, o funcionário do governo Shuyo Shiga e seus colegas preparam-se para a inauguração, em abril de 2019, da nova sede da prefeitura, de condomínios de apartamentos e lojas. Há também planos de reformar casas tradicionais japonesas para anunciá-las no site Airbnb de aluguel por temporada.

Em 2016, segundo dados do governo, 52.764 pessoas visitaram Fukushima, 92% do total dos turistas registrados no ano anterior ao desastre nuclear.

O hotel de Takahiro Kanno na cidade costeira de Minamisomavoltou a receber hóspedes e é um local escolhido pelas famílias para fazer festas de crianças.

“Ainda é difícil atrair visitantes, mas as pessoas surpreendem-se ao verem que os moradores de Fukushima têm uma vida normal. Demorará anos para que a cidade se recupere totalmente do desastre nuclear”, disse Kanno. “Enquanto isso, queremos mostrar que o esforço de reconstrução de Fukushima está sendo recompensado”.The Guardian

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