PERDA DE INFLUÊNCIA

Antes tidos como ‘tutores’ de Bolsonaro, militares acumulam demissões e derrotas

O preço por integrarem o governo já vem sendo cobrado (Foto: Marcos Corrêa/PR)


Depois de mais de 30 anos afastados dos primeiros escalões brasilienses, os militares voltaram a ocupar altos cargos na política institucional em 2019. Com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), aproximadamente uma centena e meia de membros do Exército, Aeronáutica e Marinha assumiram postos-chave no Executivo e nas empresas do Estado – oito deles chefiando ministérios.

Para o presidente, contar com generais e almirantes era só vantagens. Em uma tacada, supria o governo com a alardeada competência técnica dos quadros das Forças Armadas e pegava carona na sua popularidade: de acordo com uma pesquisa do Ibope, em janeiro deste ano 62% da população apoiava os militares no poder.

Já para as Forças Armadas, integrar o governo representava riscos: o ex-capitão saudoso da ditadura militar poderia arranhar a imagem dos generais, que por décadas buscaram se desvencilhar dos esqueletos do passado se apresentando como democratas. Ainda, qualquer fracasso do governo seria entendido, por parte da população, como um fracasso dos fardados.

Uma vez que Bolsonaro ascendeu como a alternativa viável à volta do PT ao Planalto, e tendo como seu vice um general da reserva, Hamilton Mourão (PRTB), integrar o novo governo passou a ser visto como inevitável.

Talvez numa tentativa de justificar para a sociedade a adesão ao extremista de direita, os militares imaginaram para si um importante papel: moderar Bolsonaro, contendo seus prováveis arroubos autoritários.

De janeiro para cá, em várias oportunidades os generais buscaram exercer essa função. Em alguns pontos foram bem-sucedidos: abrandaram os ataques retóricos à China, postergaram a transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém e descartaram uma ação militar na Venezuela.

Em diversos outros momentos, contudo, foram preteridos em favor da “ala ideológica”, liderada por Olavo de Carvalho e pelos filhos do presidente. Os embates com o grupo renderam humilhações aos generais, que foram chamados de “incultos”, “presunçosos” e “fofoqueiros” por Olavo, que os acusou ainda de promover “cagadas” na história política brasileira.

Bolsonaro, curiosamente, não questionou o escritor. Pelo contrário, demitiu o general Santos Cruz da Secretaria de Governo – ele que era o alvo preferencial dos insultos de Olavo – removeu Juarez Cunha, da Alta Cúpula do Exército, da chefia dos Correios, e sacou o general Franklimberg Ribeiro da presidência Funai.

As demissões foram lidas como um recado do Presidente, de que não aceitaria ser tutelado pelos ministros vindos das Forças Armadas. A elas se sucederam diversos outros gestos de Bolsonaro – como as críticas a Alberto Fernández, provável novo presidente da Argentina, e os elogios à ditadura de Pinochet no Chile – o que têm remodelado a relação da caserna com o presidente.Leandro Aguiar

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