CONFLITOS PASTORES

Pastores africanos são empurrados para miséria e crime

(Fonte: Reprodução/Reuters)

No início das estações secas os incêndios espalham-se pela República Centro-Africana (CAF). Kasper Agger, um dinamarquês que trabalha na organização sem fins lucrativos African Parks, que administra parques e áreas de preservação ambiental, com sede na África do Sul, localiza em seu laptop, com a ajuda de um software da Nasa, os focos de incêndio em um mapa do Google Earth. De dezembro a janeiro, os incêndios chegam perto de Chinko, uma grande reserva natural no CAF. Quando as chamas atingem o limite do parque, um pequeno avião sobrevoa a área e joga folhetos. Os pastores vindos de centenas de quilômetros de distância recebem as mensagens em sango, o idioma local, árabe e francês, advertindo-os para não cortar árvores, não carregar armas, ou caçar elefantes no parque.

É comum que os pastores ocupem as terras do governo e de propriedades privadas na África, mas o tamanho dos rebanhos, o envolvimento de políticos influentes e de militares, assim como a proliferação de armas fugiu ao controle das autoridades. Os conflitos são cada vez mais frequentes. O pastoreio teve de se adaptar a um estilo de vida radicalmente diferente do praticado há centenas de anos.

O crescimento rápido da população, o aumento de cercas e cidades e a anexação das terras dos pastores reduziram as áreas de alimentação do gado. Os governos protegem mais os agricultores que cultivam suas terras do que os nômades que não contribuem para o desenvolvimento sustentável dos lugares onde vivem. E incentivam a cultura de milho e mandioca como agricultura de subsistência, em vez da carne e do leite.

A mudança climática ameaça cada vez mais os meios de sustento dos pastores. Segundo um estudo da União Africana realizado em 2010, 268 milhões de africanos, ou cerca de um quarto da população na época, eram pastores. Mas esse número está em declínio.

Em alguns lugares, as dificuldades de sobrevivência levam os nômades a viver nas cidades. Em outros, os moradores urbanos ricos pagam os pastores para engordar seu gado em pastos próximos à cidade. Essa tendência é mais acentuada na região do Sahel ao sul do Sahara.

“O trabalho da African Parks consiste, basicamente, em proteger os pastos”, disse Agger. Nas estações secas, grandes rebanhos de gado do Chade e do Sudão vêm pastar nas terras do CAF. São rebanhos enormes de até 800 bovinos pastoreados por homens jovens. “Os homens em geral estão armados e os soldados uniformizados, que às vezes os acompanham, não respeitam as fronteiras internacionais, os limites do parque e os direitos de posse da terra.” Além disso, acrescentou, “esses pastores armados que se deslocam pelo CAF roubam gado de outros pastores, contrabandeiam ouro e diamantes, caçam elefantes, vendem o marfim dos elefantes abatidos e a carne de animais selvagens”.

Matthew Luizza da Associação Americana para o Avanço da Ciência atribui essa mudança nos hábitos do pastoreio tradicional às elites urbanas, membros do governo ou militares do Chade e Sudão, com contas bancárias de procedência duvidosa, que deslocam os rebanhos de gado para regiões ricas em recursos naturais, com pastores armados e controle limitado do governo. Algumas autoridades americanas estão preocupadas com uma tendência semelhante no Mali e em Níger, onde temem que os traficantes e os jihadistas ocupem espaços mal administrados pelo governo local.

A Comissão Econômica das Nações Unida para a África compartilha esse receio. De acordo com a Comissão, este ano os pastores envolveram-se na maioria dos conflitos no CAF, Chade, Mali, no nordeste do Quênia, na Somália e Sudão, assim como em redes criminosas internacionais, como tráfico de drogas, de pessoas, imigração ilegal, terrorismo e extremismo religioso.The Economist

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