TRANSFÓBICOS X ATIVISTAS

As crianças e a guerra cultural de identidade de gênero

Com frequência, médicos, pais e crianças precisam fazer escolhas prematuras arriscadas (Foto: Thinkstock)

A primeira pergunta que se costuma fazer aos pais de recém-nascidos é: “Menino ou menina?” Hoje, nos países desenvolvidos, a resposta não tem a mesma importância. As diferenças sociais entre homens e mulheres não são mais tão marcantes. As mulheres conquistaram o direito de voto, de se candidatarem a cargos políticos, e a administrar empresas. Os homens ajudam a cuidar de crianças. Ambos os sexos têm liberdade sexual e muitos países permitem o casamento de pessoas do mesmo sexo.

Ainda assim, muitas mulheres e homens não se identificam com o sexo em que nasceram. Um número crescente de adultos transgêneros está mudando seus nomes e roupas, fazendo uso de terapias hormonais e recorrendo a cirurgias de mudança de sexo. Os direitos e status dos transgêneros transformaram-se em um ponto de conflito na mais recente guerra cultural.

Algumas feministas não aceitam o fato das mulheres transgêneras se considerarem mulheres. Ativistas transgêneros chamam essas feministas de transfóbicas e as acusam de fazer discursos de ódio. A feminista radical Germaine Greer declarou que “uma cirurgia de mudança de sexo não transforma um homem em uma mulher”, como se só o físico importasse.

As críticas não são construtivas, nem éticas. Mas é imperdoável envolver crianças nessa guerra cultural. Muitas estão buscando ajuda para se tratarem do transtorno de identidade de gênero, ou disforia de gênero, caracterizada pelo desconforto com o sexo do nascimento e inadequação com o papel social deste gênero.

A cirurgia de mudança de sexo é uma decisão extremamente importante, uma vez que causa mudanças físicas irreversíveis nos órgãos genitais. No caso de crianças que não se identificam com seu sexo existem tratamentos hormonais que bloqueiam a puberdade e, assim, adiam o momento de transição. Mas esses medicamentos têm efeitos colaterais prejudiciais. Além disso, a maioria das crianças disfóricas não se torna um adulto transgênero.

Os especialistas que tentam ajudar as crianças com transtorno de identidade de gênero a se sentirem confortáveis com seu sexo são muitas vezes rotulados de transfóbicos. Poucos arriscam dizer que algumas dessas crianças sofrem de outros problemas, como anorexia ou depressão.

Com frequência, os médicos, os pais e as crianças disfóricas precisam fazer escolhas prematuras arriscadas, sem certeza se é uma crise passageira de identidade causada por fatores psicológicos. Ainda mais grave, a situação das crianças está sendo explorada pelos adultos como uma oportunidade de demonstração de grandeza moral.

Os interesses das crianças não dependem dos sentimentos dos ativistas transgêneros, nem das feministas, mas sim de fatos que ainda precisam ser definidos. Algumas crianças são mais imaturas do que outras e muitas são sensíveis às pressões psicológicas. A infância é um período de desenvolvimento físico e mental, por isso, os médicos precisam ser cautelosos ao prescrever tratamentos.The Economist

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