POLÍTICOS BUSCA POR EQUILÍBRIO

Políticos extremistas perdem apoio na França

Marine Le Pen não se recuperou da derrota na última eleição presidencial (Foto: Flickr/Remi Noyon)

“Façam bastante barulho”, pediu Jean-Luc Mélenchon, um político de extrema-esquerda, diante de uma multidão em setembro. Os manifestantes protestariam com o barulho do choque de panelas, frigideiras e outros utensílios metálicos de cozinha contra as reformas econômicas do presidente da França Emmanuel Macron, que “arruínam nossas vidas e nos impedem de sonhar e, por isso, vamos impedir que os franceses durmam”, segundo diziam.

Porém, o protesto de Mélenchon não perturbou o sono de ninguém. Na hora indicada, apenas uns poucos seguidores do partido de Mélenchon, a legenda França Insubmissa, reuniram-se em dois locais no centro de Paris. Outras manifestações contra a reforma trabalhista tiveram mais adesão, porém sem sucesso.

Durante meses, Mélenchon, apesar de seu partido ter obtido apenas 17 cadeiras na Assembleia Nacional, se opôs a Macron, a quem chama de “presidente dos ricos”. Ele critica, entre outras medidas, a redução do imposto sobre fortunas do governo Macron, apesar da diminuição do imposto sobre moradia para a parcela mais pobre da população.

No entanto, as pesquisas mostram que sua popularidade caiu de 19,6% por ocasião das eleições para 18%. Ele atrai adeptos com um monólogo semanal de meia hora sobre assuntos atuais no YouTube. Os jovens gostam de seus discursos realistas e pragmáticos. Suas ligações com movimentos populistas como Podemos, na Espanha, e com o chavismo na Venezuela também agradam aos jovens.

Mas Mélenchon não ampliou seu quadro de partidários, apesar do apelo patriótico de seus protestos com os manifestantes acenando a bandeira da França e cantando a Marseillaise. A fim de fortalecer sua imagem de eurocético ele fez campanha para retirar a bandeira da União Europeia do parlamento francês. Isso atrai a imprensa, mas não eleitores. Philippe Marlière, especialista em política de partidos de esquerda no University College London disse que a arrogância de Mélenchon e a recusa de conquistar aliados comprometem seus objetivos políticos.

Mas as perspectivas da extrema-direita são ainda mais sombrias. “A carreira política de Marine Le Pen acabou”, disse Laurent Bouvet, da Universidade de Versalhes. A líder do partido Frente Nacional (FN) não se recuperou da derrota na eleição presidencial, por 66% de votos de Macron por apenas 34% de seu partido. O FN só conquistou oito assentos na Assembleia Nacional. As disputas internas enfraqueceram o partido. Em setembro, o vice-presidente do FN, Florian Philippot, que havia criado uma estratégia de aproximação com eleitores da classe operária, anunciou sua saída para fundar um novo partido.

Com a perda de sua imunidade parlamentar em novembro, Le Pen pode ser intimada a responder à acusação de ter postado fotos do jornalista americano, James Foley, degolado por jihadistas do Estado Islâmico no Twitter. Na França, o compartilhamento de imagens violentas é ilegal. O Parlamento Europeu também suspendeu sua imunidade parlamentar no início deste ano.

Sua sobrinha de 27 anos, Marion Maréchal-Le Pen, é um possível candidato à liderança do partido, sugeriu Bouvet. Em breve, o FN enfrentará a concorrência do partido de centro-direita, Os Republicanos, que elegerá um novo líder no próximo mês, provavelmente Laurent Wauquiez, da ala direita do partido. Seu foco em questões como imigração poderia atrair eleitores que apoiaram o FN.

No primeiro turno da eleição presidencial os partidos de extrema-direita e de extrema-esquerda tiveram 47% dos votos. Eles ainda podem se recuperar do fracasso atual. Mas, por enquanto, Mélenchon e Le Pen correm o risco de fazer barulho só com colheres de pau.

The Economist

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A surpreendente cratera de Xico

Por que não enxergamos estrelas verdes ou roxas?

Egípcia posa nua em blog e provoca indignação