GUANTÁNAMO ARTE SILENCIADA

Obras criadas por prisioneiros de Guantánamo são censuradas

Artes foram expostas durante a exposição "Ode to the Sea: Art from Guantánamo Bay" (Arte: Moath Al-Alwi)

Uma exposição em Nova York reuniu obras de arte de detentos da famosa prisão de Guantánamo. A “Ode to the Sea: Art from Guantánamo Bay” (Ode ao Oceano: arte da Baía de Guantánamo) fez um grande sucesso com a imprensa e o público. Após a repercussão, o governo dos Estados Unidos foi acusado de censurar as representações artísticas dos detentos, sem dar explicações.

A prisão de Guantánamo, localizada na base naval americana em Cuba, sofreu ao longo dos anos com inúmeras críticas por possíveis violações de direitos humanos, além da falta de transparência no tratamento com os detentos. Ao todo, 41 prisioneiros permanecem no local.

Os prisioneiros que participaram da exposição foram informados que todas as suas obras de arte agora pertencem ao governo americano e, caso sejam liberados, serão destruídas. A Co-curadora da exposição, Erin Thompson, declarou que a censura por parte do governo dos EUA é “outra clara demonstração da violação de direitos humanos que é Guantánamo”.

De acordo com Thompson, a exposição foi criada para que os detentos tivessem a chance de serem vistos como seres humanos, independentemente dos seus crimes. “A arte deve ser uma janela para a alma”, destacou Thompson. Ela também revelou que os prisioneiros foram informados que, caso haja excesso de artes em suas celas, as obras serão removidas.

Fundador da instituição de caridade britânica Reprieve, Clive Stafford Smith, advogado de oito prisioneiros de Guantánamo, informou que Ahmed Rabbani, que diz ser motorista de táxi em Karachi, capital do Paquistão, foi mantido por 545 dias em um espaço clandestino operado pela CIA, que afirma que Rabbani é ligado a Al-Qaeda. No local, o detento foi torturado e interrogado, o que foi confirmado pelo Comitê de Inteligência do Senado em 2014.

Segundo o advogado, Rabbani o mostrou uma pintura – censurada, que não pôde sair da prisão para a exposição – que representa o seu tratamento quando foi torturado. O detento teria sido submetido ao “strappado”, no qual o prisioneiro fica pendurado pelas mãos em um grilhão de ferro totalmente pelado, com os seus pés ficando fora do alcance do chão.

“Tanta verdade está escondida na Baía de Guantánamo, incluindo a longa história de torturar pessoas como Ahmed, que nunca foi acusado de nenhum crime e, na minha opinião, não é culpado de nenhum. “, disse Smith.

Uma das pintura apresentadas na exposição foi a Vertigo. Feita pelo detento Ammar Al-Baluchi, ela também representa as torturas sofridas na prisão. Na obra, o redemoinho de linhas e pontos coloridos representa a sensação de vertigem do prisioneiro, resultado de uma lesão cerebral sofrida durante um interrogatório. “Uma imagem pinta mil palavras, como eles dizem, e eu realmente não entendia como ele tinha sido abusado até ver suas obras”, explicou Stafford Smith.

Shelby Sullivan-Bennis, advogado da instituição britânica Reprive, afirmou que as penitenciárias sempre incentivaram os prisioneiros a se envolver com a arte, como uma forma de ressocializá-los e lembrou um discurso do presidente Donald Trump sobre “encher a prisão de Guantánamo com caras maus”, enquanto o ex-presidente Barack Obama teria tentado fechá-la.

“Há apenas uma razão pela qual a arte está sendo censurada agora, e é manter a pretensão de que todas essas pessoas se adequam ao estereótipo tolo do presidente Trump de ‘caras maus’, um engano patético do mundo”, disse o advogado.Independent

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