CRISE HUMANITÁRIA

Mianmar e Bangladesh assinam acordo para volta dos rohingyas

Rohingyas em um campo de refugiados em Cox's Bazar, Bangladesh (Foto: UNHCR/Saiful Huq Omi)

Na quinta-feira, 23, o Ministério do Exterior de Mianmar afirmou que assinou junto com Bangladesh um memorando de entendimento em prol do retorno de centenas de milhares de pessoas da minoria étnica rohingya. Os rohingyas fugiram de Mianmar para Bangladesh, devido a uma forte repressão das forças armadas birmanesas. Apesar de Bangladesh ser uma país pobre e superpopuloso, os cidadãos ajudaram os refugiados como puderam.

“Estamos prontos para aceitá-los de volta tão logo seja possível, assim que Bangladesh nos enviar os formulários”, disse Myint Kyaing, secretário do Ministério do Trabalho, Imigração e População de Mianmar, à agência de notícias Reuters. Os rohingyas devem preencher seus dados pessoais nos documentos antes de serem repatriados. No entanto, os detalhes do processo ainda não foram divulgados.

O estopim da crise dos rohingyas ocorreu em agosto, quando o Exército de Salvação Rohingya de Arakan (Arsa), que luta pela autonomia do grupo étnico, atacou diversos postos das forças de segurança de Mianmar. De acordo com o governo, 12 pessoas morreram. As forças de seguranças birmanesas, por sua vez, responderam aos ataques com uma repressão violenta no estado de Rakhine. Segundo as Nações Unidas, esta resposta birmanesa foi desproporcional. A organização denunciou casos em que as forças de segurança cometeram assassinatos, estupros e até incendiaram aldeias inteiras em Rakhine.

Presente X passado

Segundo a ONU, desde agosto, mais de 600 mil rohingyas fugiram de Mianmar para Bangladesh. No entanto, esta situação de perseguição contra os rohingyas não é nova no país. Em 1991 e em 1992, milhares de rohingyas também se refugiaram em Bangladesh depois de um ataque violento às suas aldeias.

A grande dúvida é se o processo de repatriação vai ser mais eficiente do que foi no passado. Na última vez, o governo de Mianmar demorou cinco anos para repatriar uma parte dos que queriam retornar ao seu país natal. A previsão é que o acordo atual entre em funcionamento em dois meses.

Pressão internacional

O alto comissário para os direitos humanos da ONU, Zeid Ra’ad Al-Hussein, classificou a ação como “exemplo clássico de limpeza étnica”. Na última quarta-feira, 22, o Secretário de Estado americano, Rex Tillerson, concordou com a avaliação do comissário. “Depois de uma análise cuidadosa e completa dos fatos disponíveis, é claro que a situação no norte do estado de Rakhine constitui uma limpeza étnica contra os rohingyas”, disse Tillerson, em nota. Na semana passada, em visita oficial a Mianmar, Tillerson chegou a pedir ao governo da líder Aung San Suu Kyi que permitisse a realização de um inquérito imparcial para apurar as denúncias.

Por outro lado, o embaixador da Rússia em Mianmar, Nikolay Listopadov, defende que “intervenções externas excessivas” no país asiático não trariam resultados, apenas ajudariam a aumentar a pressão no cenário. Ele considera que tal inquérito é “inaceitável”, “contraprodutivo” e que não iria funcionar. Moscou diz defender uma solução pelos “meios políticos” e pelo diálogo.

A líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi, que já recebeu um Nobel da Paz, foi bastante criticada pelo silêncio diante da perseguição étnica. Em setembro, ela culpou os “terroristas” pelas “desinformações” e disse que o país está defendendo todos da melhor forma possível.DW

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