RELIGIÃO PACÍFICA

Adeptos do budismo têm encontrado motivos para lutar

O que o budismo ensina sobre paz e guerra (Fonte: Reprodução/Reuters)

O budismo é considerado uma das religiões mais pacíficas do mundo. Como outras religiões do Sudeste Asiático, enfatiza o princípio ético-religioso do ahimsa, que consiste em não cometer violência contra os seres vivos. Seus ensinamentos também dão um destaque especial à noção que a violência prejudica tanto o estado espiritual do agressor como da vítima. Pensamentos maldosos ou atos cruéis são vistos como obstáculos no caminho para o nirvana, a meta suprema do desenvolvimento espiritual. Com sua mensagem de paz o fundador do budismo, Gautama Buda, impediu que clãs rivais guerreassem em razão de uma disputa sobre o abastecimento de água. Após a conversão ao budismo, o imperador Ashoka, que governou o sul da Ásia no século III a.C., sentiu remorso por ter cometido atos de violência no passado.

A história mais recente não é um exemplo de amor, perdão e tolerância. Na Ásia, os monges budistas envolveram-se em conflitos intercomunitários sangrentos, como incentivadores ou participantes. Alguns grupos no Sri Lanka, como Bodu Bala Sena, disseminam a ideia que uma pequena comunidade muçulmana é um perigo mortal para a integridade do país como uma nação budista. Os monges mais radicais lutaram contra os Tigres do Tâmil, uma organização separatista, durante a longa guerra civil, que terminou em 2009.

No mês passado, um monge budista em Sri Lanka foi preso sob a acusação de ter atacado um centro para refugiados muçulmanos. Na Tailândia, os monges budistas foram vítimas e protagonistas de um conflito que se espalhou em três províncias do sul, onde a maioria da população é muçulmana.

Mas a violência em Mianmar tem crescido de uma maneira assustadora. O monge budista Ashin Wirathu é implacável em sua intolerância às minorias muçulmanas. Sua organização, Ma Ba Tha, apesar de proibida, instiga a perseguição das autoridades à minoria muçulmana dos rohingyas, cuja limpeza étnica já causou o êxodo de mais de 600 mil pessoas para Bangladesh.

Segundo o Ma Ba Tha, a minoria muçulmana é uma ameaça ao budismo em Mianmar. O Dalai Lama, líder espiritual budista do Tibet, exilado na Índia, repreendeu seus seguidores por perseguir os rohingyas, advertindo-os que deveriam “lembrar o exemplo de Buda, que com certeza ajudaria esses infelizes muçulmanos”.

Como em qualquer outra religião importante na história da humanidade, o budismo cria um sentimento forte de proteção entre seus fiéis, sobretudo, quando os preceitos religiosos e a identidade nacional se entrelaçam, como no Sri Lanka. Na memória coletiva dos budistas, a propagação do budismo durante o reinado do rei Ashoka e a criação do país confundem-se. E sempre que as pessoas se sentem ameaçadas em sua identidade e origem, a reação pode levar a extremos de intolerância e zelo religioso, como nas cruzadas dos cristãos na Idade Média.

Além disso, como em qualquer coleção de textos sagrados, existem exemplos na tradição budista em que a violência, em especial em legítima defesa, é justificável. Mas não entre os monges radicais.The Economist


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