CÍRCULO DE VIENA

Novo livro descreve o mundo do Círculo de Viena

As discussões do Círculo atraíam intelectuais brilhantes (Foto: Reprodução/Basic Books)

Em 21 de outubro de 1916, Friedrich Adler, físico e político socialista, almoçou calmamente em um restaurante famoso de Viena. Após o café, dirigiu-se à mesa do primeiro-ministro, Karl von Stürgkh, e matou-o com vários tiros de pistola. Adler, filho do fundador do Partido Social-Democrata, Victor Adler, esperou ser preso. Algo tinha de ser feito para mudar a maneira de pensar, disse. Condenado à morte, Adler foi perdoado dois anos depois.

Quando os nazistas assumiram o poder na Áustria, Adler, na época secretário da Internacional Socialista dos Trabalhadores, realizou reuniões urgentes com outros políticos socialistas para elaborar uma estratégia de resistência ao nazismo. Durante uma dessas reuniões, um Adler exaltado fez um discurso incoerente. “Ele atira melhor do que fala”, observou um delegado francês. Em Exact Thinking in Demented Times: The Vienna Circle and the Epic Quest for the Foundation of Science, Karl Sigmund descreve essa época de turbulência política e as ideias dos membros do lendário Círculo de Viena.

O Círculo de Viena compunha-se de físicos, matemáticos e filósofos, cujas reuniões quinzenais eram dedicadas a investigar problemas de lógica, ciência, linguagem e matemática. Coordenadas pelo filósofo Moritz Schlick, as discussões atraíam intelectuais brilhantes, como o matemático Kurt Gödel; o economista Otto Neurath; os filósofos Rudolf Carnap, Karl Popper e Ludwig Wittgenstein, bem como Albert Einstein e Bertrand Russell.

As discussões sobre a possibilidade de uma ciência unificada, os perigosos caprichos da linguagem cotidiana ou as estruturas da matemática e da lógica prosseguiram por mais de uma década. Esses debates, que pareciam tão abstratos, resultaram em ideias de vital importância para a computação, astrofísica, cosmologia, e teoria da ciência e da filosofia. O autor dedica grande parte do livro à explicação de alguns desses conceitos. Os leitores incapazes de compreendê-los de imediato estão em boa companhia. “A maioria dos estudiosos concorda”, escreveu Sigmund, “que nem Wittgenstein ou Russell entenderam as ideias de Gödel”.

Essas discussões rigorosas situavam-se no limite do que poderia ser pensado à época. Ao longo de sua existência, o Círculo de Viena foi marcado por excentricidades, desentendimentos e rivalidades, além de problemas mais sérios. Dois de seus membros se suicidaram. Gödel, que tinha um medo paranoico de ser envenenado, em uma de suas crises depressivas, parou de se alimentar e morreu de complicações decorrentes da inanição, em Princeton, EUA, em 1978.

Com a ascensão do nazismo em 1933, os membros do Círculo de Viena aos poucos se dispersaram. Mesmo antes da anexação da Áustria pela Alemanha em 1938, vários de seus membros foram obrigados a fugir. Schlick, que não era judeu, escolheu ficar em Viena.

Em 1936, ele foi morto a tiros na escada da Universidade de Viena por um aluno nazista que o seguiu durante meses obcecado por uma fantasia de ciúme sexual. O assassino logo se tornou um herói do Partido Nacional-Socialista alemão e teve sua sentença perdoada 18 meses depois do crime. Entre os dois crimes, o de Adler e o assassinato de Schlick, Sigmund, um físico vienense, descreve, com domínio do tema, a efervescência intelectual em uma Viena turbulenta nos anos anteriores à Segunda Guerra Mundial.The Economist

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