POPULAÇÃO DE RUA

Rio de Janeiro vive um salto no número de sem-teto

Aumento tornou mais evidente o abismo entre ricos e pobres na cidade (Foto: Alexandre Durão/G1)

Segundo dados oficiais recentes, o número de moradores de rua na cidade triplicou para 15 mil entre 2013 e 2016. Mas ativistas afirmam que o total pode ser bem maior.

O aumento da população de rua tornou mais evidente o infame abismo entre ricos e pobres, acirrando conflitos e gerando indignação. Embora a maior parte da população de rua se concentre no Centro da cidade, a zona sul, região nobre do Rio, vem observando um aumento significante no número de pessoas em situação de rua.

Em Copacabana, esse aumento vem elevando a tensão entre a população de rua e os abastados moradores do bairro. Em setembro do ano passado, por exemplo, uma postagem em um grupo de moradores do bairro gerou polêmica ao orientar os seguidores da página a não darem esmola aos sem-teto, sob o argumento de que isso os estimula a permanecer no local.

“Quando virem alguém dando comida ou esmola, chamem atenção, façam gritaria, mostrem a todos que estiverem passando, que aquela pessoa está contribuindo para que tenhamos mais mendigos nas ruas do bairro. Só assim ficam constrangidos e param”, dizia a postagem.

Nos meses seguintes, o tema continuou a ser discutido nas redes sociais. “Eles [os sem-teto] são pessoas, como eu e você, eles precisam de ajuda, e não serem tratados como animais”, escreveu um internauta. “Somos prisioneiros em nossas próprias casas, perdendo o direito de ir e vir com segurança”, respondeu outro. “Esse é o início da praia de Copacabana se tornando uma favela”, escreveu outro morador, sobre os sem-teto que vivem em barracas na areia.

Donos de estabelecimentos também expressam preocupação em relação ao aumento do fluxo de moradores de rua, alguns deles viciados em crack, em meio a uma crescente epidemia da droga. “Copacabana atualmente é horrível. As pessoas têm medo de comer nas mesas que coloco na calçada”, diz Josecler Brunetto, dono de uma hamburgueria no bairro.

Embora o Brasil venha se recuperando da recessão que deixou milhões desempregados, muitos ainda não conseguiram se recolocar no mercado de trabalho.

É o caso do pai de Hebriel, que em 2015 perdeu seu emprego como assistente de obras em uma cidade do interior do estado e decidiu se mudar para a capital com os filhos em busca de uma oportunidade. Segundo dados oficiais, 45% dos moradores de rua do Rio vêm de outras regiões. “Decidimos vir para Copacabana porque ouvimos falar que é o melhor lugar para conseguir dinheiro e comida”, explica Hebriel.

Porém, a recepção se tornou mais fria à medida que o número de moradores de rua no bairro aumentou. Em outubro do ano passado, uma moradora de rua chamada Fernanda Rodrigues dos Santos foi morta a tiros enquanto dormia na calçada. A polícia prendeu dois suspeitos: uma estudante de medicina e um professor de artes marciais.

“Vivemos com mais medo ainda depois do que aconteceu com a Fernanda”, diz o morador de rua Luiz Phellipe dos Santos Couto, de 24 anos. Ele passou a viver nas ruas quando tinha 13 anos, após ser expulso de onde morava por integrantes do crime organizado. Segundo ele, a população de rua em Copacabana aumentou em cinco vezes nos últimos anos. “Acho que os moradores se tornaram mais hostis”, diz ele, explicando que o lugar onde dormia, entre duas plantas em um canteiro da calçada, foi preenchido com outras plantas.

Outros sem teto relatam que também perceberam que os moradores vêm tomando medidas para desestimular a presença deles no bairro. Em agosto, os moradores de um prédio instalaram um sistema de irrigação que de tempos em tempos molha os cantos que poderiam ser usados por moradores de rua.

“Se o governo não resolve o problema, os cidadãos vão encontrar um jeito de fazer isso. Infelizmente é assim que as coisas funcionam em nossa cidade”, disse Horácio Magalhaes, presidente da associação de moradores de Copacabana, em um vídeo postado no Facebook.

Pedro Fernandes, secretário de assistência social da cidade, diz ter assumido o cargo em outubro, em meio a uma crise. Oito dos 64 abrigos para moradores de rua da cidade fecharam e os que seguem operando estão em condições precárias. “Estamos tentando reconquistar a confiança da população de rua”, diz o secretário. Ele reabriu cinco abrigos, reformou outros dois e inaugurou mais dois abrigos, com instalações similares a um hotel. Ele espera conseguir para a população de rua uma assistência similar à concedida a vítimas de enchentes e desabamentos.

Um dos residentes de um dos abrigos inaugurados é Cássio Adão, de 41 anos. Ele perdeu o emprego há um ano, em uma refinaria da Petrobras. “É frustrante. O Rio tinha tudo para ser uma história de sucesso”, diz ele.The Washington Post

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A surpreendente cratera de Xico

Por que não enxergamos estrelas verdes ou roxas?

Egípcia posa nua em blog e provoca indignação