PESQUISA HUMANOS

Humanos costumam usar analogias para descrever cheiros

Ao longo da vida, continuamos a identificar os cheiros que nos acompanharam desde a infância, mas é difícil descrevê-los em palavras exatas (Foto: Pixabay)

O olfato não é um dos sentidos mais apurados nos seres humanos. De acordo com muitos antropólogos, essa deficiência resultou de uma evolução no cérebro dos primatas, que privilegiou a visão e não o olfato. Os seres humanos não têm dificuldade em dar nomes precisos a cores, mas recorrem em geral a analogias para expressar os cheiros em palavras.

Ao longo da vida, continuamos a identificar os cheiros que nos acompanharam desde a infância, mas é difícil descrevê-los em palavras exatas, talvez porque não tenham tanta utilidade na vida prática. Um artigo recém-publicado no periódico científico Current Biology, de Asifa Majid da Universidade Radboud na Holanda e de Nicole Kruspe da Universidade Lund, na Suécia, confirma essa teoria.

Em uma pesquisa feita com o povo jahai, um grupo de caçadores-coletores que vive na região ocidental da Malásia, Majid surpreendeu-se com a facilidade que tinham em encontrar nomes precisos para os cheiros. Em um experimento os voluntários americanos não tiveram dificuldade em dar nomes às cores, mas o cheiro da canela foi descrito como adocicado, picante, frutado como de um vinho etc. Na descrição de um talco de bebê os aromas lembravam o cheiro de baunilha, de papel higiênico, de consultório de dentista, creme para mãos e chiclete. Mas no mesmo experimento, os jahai não hesitaram em dar nomes precisos aos cheiros e às cores que lhes eram apresentados.

Majid sugeriu que a capacidade de os jahai em denominar odores devia-se ao fato de terem um determinado número de palavras destinadas a descrever tipos de cheiros importantes para seu dia a dia nas florestas. Por exemplo, os jahai usam a palavra “cŋεs” para cheiros associados a gasolina, fumaça e vários insetos, e “plʔeŋ” para cheiro de sangue, carne ​e peixe.

Para testar a importância do uso de palavras abstratas para designar cheiros, Majid e Kruspe observaram dois outros grupos de povos da Malásia como os semaq beri, que também são caçadores-coletores, e os semelai, que cultivam arroz. Embora tenham vidas diferentes, suas línguas estão intimamente relacionadas e ambos vivem nas florestas.

Majid e Kruspe pediram a 20 semaq seri e a 21 semelai para dar nomes a odores e cores. As cores estavam expostas em 80 cartões e os cheiros em 16 varetas perfumadas. Os pesquisadores constataram que os semaq beri usaram termos abstratos para designar cheiros em 86% dos casos apresentados e em 80% das cores. Os semelai, por sua vez, tinham um vocabulário rico para cores em 78% dos casos. Mas não tinham a mesma riqueza linguística para odores, em que o número de palavras limitou-se a 44% e o restante baseou-se em analogias, como cheiro de banana.

Dadas essas descobertas, Majid e Kruspe concluíram que o estilo de vida nômade dos caçadores-coletores nas florestas criava um vocabulário específico para cheiros, que lhes permitia alertar os companheiros da proximidade de animais perigosos, ou para encontrar alimentos vitais à sua sobrevivência.The Economist

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