A arte negra dos vodus africanos
Bicos de patos, patas de roedores, pinças de crustáceos, sucatas de metal enferrujados, plumas de aves, segmentos de sementes de plantas, vasos de terracota, conchas, tudo isso ligado em uma esfígie gorda feminina, esculpida inteiramente em madeira. Esta figura maternal é apenas um dos fetiches entre as cerca de 100, de Benin e Togo, expostas na Fondation Cartier, em Paris. É a primeira vez que a coleção particular de vodus, pertencente a Jacques Kerchache, explorador e coletor francês, está sendo exibida. O resultado é tão fascinante quanto repulsivo.
Muitos objetos são violentos, crus, macabros, e o são deliberadamente. Um fetiche é um objeto sagrado que encarna o espírito ou o poder de um Deus. Muitos são montados sob instruções de uma figura divina, revestidos por óleo de palma e sangue, e depois ativados para invocar o poder de proteger ou prejudicar. A maioria dos componentes carrega simbolismos específicos. Um bico de pato significa silêncio. Garras de uma águia fornecem força. Ferros de servos significam dor ou morte. Encantamentos são proferidos em buracos nas esculturas, com estacas de madeiras inseridas para selar o feitiço. A localização dos pinos indica onde o corpo será prejudicado. Vodun é o nome que estudiosos dão ao culto originário da costa africana, vindos dos escravos, que foi exportado com o nome de vodu para as plantações do Haiti, Cuba, Brasil e outros países americanos, que ainda os praticam até hoje.
A maioria das estatuetas estão elegantemente dispostas em cubos de vidro em uma sala de baixa iluminação, para poder dignificá-las. Estranhamente, não há rotulagens explicativas. “Kerchache pretende que as pessoas sejam confrontadas com o poder dos objetos e não apenas olhem para os rótulos”, explica Leanne Sacramone, o curador da exibição. Uma vez, Kerchache escreveu “Na África, a função é inseparável da beleza”. Com uma grande exposição de esculturas, de Dogon, também sendo inaugurada esta semana no Musée Du Quai Branly, também em Paris. A questão ainda difícil é quanto isto dignifica a tradição tribal, ou simplesmente deixa a África mais exótica.
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