Cinema



'A Garota da Capa Vermelha': suspense e traições

Em “A Companhia dos Lobos”, Neil Jordan já recontara a história de Chapeuzinho Vermelho pelo ângulo do lobo. Há uma nova Chapeuzinho nas telas e agora o lobo virou lobisomem. Quem assina “A Garota da Capa Vermelha” é Catherine Hardwicke, que formatou a série Crepúsculo. Ela é louca por um homem lobo.

Depois que Bruno Bettelheim usou a psicanálise para expor que os contos de fadas remetem a pulsões secretas do ser humano, o próprio cinema passou a buscar um enfoque mais adulto de temas tradicionais. Isso já ocorria antes, porque a versão de Jean Cocteau para “A Bela e a Fera”, nos anos 1940, destinava-se ao público maduro. Desde então, deu a louca na Cinderela, na Gata Borralheira, na Chapeuzinho... Shrek é um caso à parte. É subversivo de forma velada, de olho no público-alvo dos contos, as crianças.

Embora tenha feito apenas o primeiro filme da série “Crepúsculo” - o quarto foi filmado no Brasil -, Catherine Hardwicke foi decisiva na conceituação das adaptações dos livros de Stephenie Meyer. E ela certamente teve um bom olho para escolher o elenco. Sem o romantismo mórbido de Robert Pattinson nem a passividade perversa de Kristin Stewart, “Crepúsculo” dificilmente teria encontrado tanta ressonância junto ao público. Ao se voltar para Chapeuzinho, ela superpõe à fábula, propriamente dita, um elemento de suspense. A identidade do lobisomem gera uma caçada que só é desvendada no desfecho.

A garota da capa vermelha vive numa cidadezinha assolada pela maldição do lobisomem. A entrada em cena de um representante da Igreja, voltado aos exorcismos, expõe os conflitos sob a aparência de tranquilidade. Paganismo, traições, desejos reprimidos. O lobisomem revela-se. Como em “Crepúsculo”, Catherine Hardwicke, que é inteligente, pensa melhor do que filma. Mas a nova roupagem para a velha história é interessante. E Julie Christie, como avó, é muito boa. (AE)

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