O paradoxo da fertilidade

Em países em desenvolvimento, enquanto algumas mulheres têm dezenas de filhos, outras não têm nenhum


Maternidade em Kinshasa, capital do Congo (Reprodução/Internet)

Pasquale Patrizio, médico, diretor do Centro de Fertilidade da Universidade de Yale e professor de obstetrícia e ginecologia, lançou um projeto junto com outros especialistas em fertilidade para criar clínicas de fertilidade de baixo custo para casais de baixa renda em países pobres. Mas, em países subdesenvolvidos o problema não é justamente o oposto? Não existe uma explosão populacional?

Sim e não.

A Organização Mundial de Saúde prevê que até 2050, países em desenvolvimento irão gerar 35 milhões de bebês anualmente. No entanto, nestas mesmas regiões cerca de um em cada três casais são inférteis. Não é preciso ser um gênio da matemática para descobrir que algumas pessoas têm dezenas de filhos e outras nenhum.

Especialistas na área de saúde chamam esse fenômeno de “paradoxo da fertilidade”. Eles afirmam que o ideal seria que existissem centros de saúde reprodutiva em países pobres que oferecessem três coisas: cuidados de qualidade para pré-natal e parto, anticoncepcionais para mulheres que já possuem muitos filhos e tratamento de fertilidade para aqueles que não podem ter nenhum. Para que isso seja transformado em realidade existem grandes obstáculos. No entanto, a noção desse paradoxo e a busca por formas de combatê-lo têm ganhado impulso nos últimos anos.

De acordo com o professor de obstetrícia e ginecologia do Instituto de Tecnologia de Fertilidade em Genk, na Bélgica, Willem Ombelet, a ironia é que ter problemas de fertilidade em um país em desenvolvimento é muito mais difícil do que em um país desenvolvido, onde esforços para reverter o problema estão sendo feitos. A parte não irônica é que os tratamentos de fertilidade são grandes fontes de lucros nos países desenvolvidos.

Com frequência, mulheres de regiões pobres que não podem ter bebês são abandonadas pelos maridos e não conseguem empregos, o que muitas vezes as levam para a prostituição. Para funcionários da saúde, a infertilidade é uma doença tratável, e os que sofrem deste mal, assim como qualquer outro doente, merece tratamento também. Ombelet criou uma clínica sem fins lucrativos chamada “The Walking Egg”. Patrizio espera que a iniciativa cresça e está trabalhando com colegas de outras instituições sem fins lucrativos para disponibilizar tratamentos de fertilidade com baixo custo.

Enquanto os programas de tratamento com preços acessíveis parecem distantes, algumas equipes estão começando a realizar testes com novas técnicas como, por exemplo, menos testes de diagnósticos, medicamentos mais baratos e o uso de laboratórios simples, ao invés de espaços milionários e sofisticados. O último quesito é o mais complicado de todos. O embriologista pioneiro e diretor do laboratório de Endocrinologia Reprodutiva da Faculdade de Medicina, em Denver, Jonathan Van Blerkom está trabalhando com Ombelet em um laboratório portátil que inclui uma incubadora do tamanho de uma caixa de sapatos e pequenos tubos de ensaio para os embriões.

Mas nem todo mundo se entusiasma com a iniciativa. Professora de população e saúde familiar da Universidade Columbia, Wendy Chavkin disse que a fertilidade de mulheres em países pobres não deveria ser uma prioridade: “Existem certos princípios sobre como alocar recursos na saúde. O dinheiro não pode ser empregado no que as pessoas querem. É preciso avaliar o número de pessoas afetadas, as causas subjacentes e a capacidade de intervir de forma eficaz. Os tratamentos de fertilidade atuais têm resultados muitos baixos. Enquanto isso, as doenças infecciosas e suas consequências, incluindo o câncer, muitas vezes ficam sem tratamento”, disse. Slate

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