RÚSSIA CIÊNCIA

Rússia quer recriar primeiros momentos do Universo com "supercolisor"

A construção do "supercolisor" NICA, em Dubna. EFE/Céline Aemisegger

Em Dubna, cerca de 100 quilômetros ao norte de Moscou, é possível vislumbrar o que será um enorme complexo científico que abrigará o "supercolisor" NICA, um grande projeto com participação internacional com o qual a Rússia pretende recriar os primeiros momentos do Universo.

A construção do NICA (Nuclotron-based Ion Collider fAcility) no Instituto Conjunto de Pesquisa Nuclear (JINR, na sigla em inglês) começou em 2013 e está previsto que as obras sejam concluídas no final de 2019, segundo disse a um grupo de jornalistas estrangeiros o cientista Dmitri Driablov.

O desejo dos aproximadamente mil cientistas e engenheiros que trabalham no projeto é começar a operar o colisor a partir de 2023.

O objetivo é estudar a transição da matéria ordinária para o plasma quark-gluón, uma "sopa" muito quente e densa que existia durante os primeiros 20 a 30 microssegundos depois do Big Bang, há 13,7 bilhões de anos.

Para isso, em Dubna serão feitas colisões de feixes de íons de ouro. O coração do NICA é o acelerador supercondutor Nuclotron, que funciona no JINR desde 1993 e foi um dos primeiros na Europa, segundo a Rússia.

O objetivo em longo prazo do JINR é que o NICA sirva não só para "observar a origem do estado atual do Universo", mas também para oferecer soluções práticas nos campos do espaço e do tratamento de câncer.

O JINR, fundado em 1956 e que atualmente conta com cinco mil funcionários e com a participação de 18 países de Europa, Ásia e América Latina e de outras instituições científicas como o Centro Europeu de Física de Partículas (CERN), na Suíça, não é o único que trabalha em uma cura do câncer.

Há um ano o CERN indicou que o laboratório Medicis (Medical Isotop Collected from Isolde) produzirá isótopos radioativos "sob medida" para usá-los no diagnóstico e no tratamento de doenças, como o câncer.

Na Rússia, os cientistas já desenvolveram "um aparelho que permite transportar um feixe de partículas baseadas em carbono e oxigênio ao corpo do paciente para tratar o câncer" sem danificar os tecidos saudáveis, segundo Driablov.

Em relação ao espaço, o NICA, em cujo conselho consultor participa o CERN, pode contribuir para medir o rendimento de tecnologia microeletrônica para analisar sua resistência à radiação quando utilizada no espaço.

Um experimento "espacial" já aconteceu em Dubna. Recentemente os cientistas do JINR mediram a radiação cósmica no cérebro de macacos para ver seu impacto na memória em curto e longo prazos, explicou Driablov.

Os primeiros resultados não são bons, pois mostram que, com a atual tecnologia, os seres humanos "não poderão ir para Marte com seus cérebros intactos", pois esquecerão boa parte do que foi aprendido na Terra.

Precisamente, espera-se que o NICA possa oferecer soluções para esses problemas, já que íons pesados carregados no acelerador podem simular em poucos segundos ou minutos os efeitos da radiação cósmica em aparelhos eletrônicos e seres humanos.

No entanto, a paisagem do recinto altamente vigiado ainda não é dominada pelos cientistas, mas quase que exclusivamente por enormes estruturas de metal e cimento, operários da construtora austríaca STRABAG e pelo barulho de maquinaria pesada e de caminhões que transportam material de um extremo ao outro.

As paredes dos túneis que abrigarão o colisor e o acelerador supercondutor Nuclotron têm uma espessura de entre 1,5 e 4 metros, para "garantir a segurança dos trabalhadores, mas também para proteger o NICA de ameaças como o impacto direto de um míssil", explicou o chefe da obra.

Tanto Driablov como o engenheiro que supervisiona a produção dos ímãs para os campos magnéticos, os cabos supercondutores e anéis do colisor deixam entrever que a implementação do complexo talvez possa requerer mais tempo.

"Temos que terminar a construção, instalar muitos equipamentos como os ímãs supercondutores, o sistema de resfriamento e temos que refinar o processo do acelerador, o que é um processo muito complicado", afirmou Driablov.

Céline Aemisegger/EFE

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