MEIO AMBIENTE

ONGs rebatem acusação de Bolsonaro sobre queimadas

ONGs classificaram declarações de Bolsonaro como ‘irresponsáveis’ e ‘inconsequentes’ (Foto: 2°SGBM/2°GBM)

Mais de 100 ONGs criticaram as afirmações do presidente Jair Bolsonaro sobre uma suposta participação nas queimadas na região amazônica. Na última quarta-feira, 21, Bolsonaro sugeriu que “ongueiros” podem estar por trás dos incêndios.

Entre as principais entidades a se posicionarem contra as afirmações de Bolsonaro está a WWF-Brasil. Através de um comunicado, a ONG lamentou as declarações de Bolsonaro. Ademais, destacou os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre o crescimento dos focos de incêndio em 2019.

“O WWF-Brasil lamenta a nova tentativa do presidente Jair Bolsonaro de desviar o legítimo debate da sociedade civil sobre a necessidade de proteger a Amazônia e, consequentemente, combater o desmatamento que está na origem dos incêndios fora de proporção que assolam o país e comprometem a qualidade do ar em várias regiões”, disse a ONG através do comunicado.

Outra afirmação de Bolsonaro rebatida pela ONG foi sobre um suposto corte de repasses. De acordo com o presidente, 40% dos repasses internacionais eram encaminhados para ONGs, além dos repasses de dinheiro público o que não é feito mais. No entanto, de acordo com o WWF-Brasil, usando dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apenas 2,7% das Organizações da Sociedade Civil (OSC) receberam repasses federais entre 2010 e 2018.

“Os recursos que o governo suprimiu foram as doações internacionais ao Fundo Amazônia e eles subsidiavam ações de combate ao desmatamento e a incêndios, entre outras coisas. Portanto, o que o alegado corte em repasse de recursos causou foi a redução na capacidade do Estado de combater o desmatamento e os incêndios”, explicou a entidade.

Paulo Addario, estrategista sênior de florestas do Greenpeace, também rebateu as acusações de Bolsonaro. De acordo com o ambientalista, Bolsonaro tenta criminalizar as ONGs, que contam com a participação da sociedade civil. Dessa forma, criminalizar as entidades seria também uma forma de criminalizar a cidadania.

“O Estado não tem capacidade de atuar em todos os lugares, e parte da sociedade civil assume a responsabilidade de fazer isso. Aí você criminalizar isso é um desejo deliberado de descrédito porque o presidente não acredita na organização social, ele acha que é uma coisa manipulada pela esquerda, pelos comunistas”, destacou Addario, segundo noticiou o jornal Globo.

Já Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), classificou como “irresponsável” às afirmações feitas por Bolsonaro. Segundo Bocuhy, os argumentos utilizados pelo chefe de Estado não fazem sentido, visto que as ONGs ambientais têm como principal objetivo proteger o meio ambiente.

“Essa afirmativa da Presidência da República é completamente irresponsável, porque as ONGs têm como objetivo o meio ambiente como prioridade. Não faz nenhum sentido dizer que ONG está colocando fogo em floresta, pelo contrário. É um grande absurdo”, afirmou o ambientalista, segundo noticiou o portal G1.

Em um comunicado conjunto, assinado por mais de 110 organizações da sociedade civil, diferentes entidades classificaram a declaração de Bolsonaro como “inconsequente”. Segundo a nota, o presidente está “manipulando a opinião pública contra o trabalho realizado pela sociedade civil”. O comunicado também destaca outras diferentes atividades que causam dano ao meio ambiente.

“O aumento das queimadas não é um fato isolado. No seu [Bolsonaro] curto período de governo, também cresceram o desmatamento, a invasão de parques e terras indígenas, a exploração ilegal e predatória de recursos naturais e o assassinato de lideranças de comunidades tradicionais, indígenas e ambientalistas. Ao mesmo tempo, Bolsonaro desmontou e desmoralizou a fiscalização ambiental, deu inúmeras declarações de incentivo à ocupação predatória da Amazônia e de criminalização dos que defendem a sua conservação”, aponta o comunicado.

A atual situação da Floresta Amazônica e o elevado número de queimadas estão sendo noticiados por alguns dos principais jornais do mundo. A comoção em relação à situação da Amazônia fez com que diferentes personalidades mundiais, como o ator Leonardo DiCaprio, falassem sobre o tema. A hashtag “#PrayForAmazonas” (Reze pela Amazônia) foi o assunto mais comentado do Twitter na última quarta-feira.

Posicionamento reforçado

Após as declarações de Bolsonaro, o porta-voz da Presidência, o general Otávio Rêgo Barros, afirmou que o governo recebeu diferentes denúncias de incêndios criminosos promovidos por ONGs em algumas regiões. Em seguida, Rêgo Barros voltou a falar sobre a influência estrangeira na ação das entidades.

“O presidente já destacou que muitas delas [ONGs] atendem aos interesses estrangeiros que cobiçam as riquezas naturais existentes no território brasileiro. Algumas vivem exclusivamente do aporte financeiro externo, que no momento, em face das ações do governo brasileiro, foram estancadas por má-gestão”, afirmou o porta-voz, segundo noticiou a Agência Brasil.

Novo monitoramento

Depois de criticar o Inpe em diferentes oportunidades, o que levou à exoneração do então diretor do Instituto, Ricardo Galvão, o governo federal vai contratar uma empresa privada para monitorar o desmatamento. O edital foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) da última quarta-feira.

A abertura de propostas vai ocorrer no próximo dia 2 de setembro, enquanto o edital ficará disponível, para as empresas interessadas, no site do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

De acordo com a publicação no DOU, o objetivo é contratar empresas “especializadas no fornecimento de serviços de monitoramento contínuo utilizando-se do imageamento diário por imagens orbitais ortorretificadas de alta resolução espacial para geração de alertas diários de indícios de desmatamento (revisita diária)”.

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