ACORDO DE PAZ NA COLÔMBIA-Um partido político bolivariano chamado Farc


Eleitores colombianos terão a chance de acabar com um dos conflitos mais duradouros do mundo em 2 de outubro (Foto: Flickr)
Um acordo de paz definitivo entre o governo da Colômbia e as Farc, anunciado na quarta-feira, 24, após quatro anos de negociações em Havana, é histórico porque põe fim a meio século de conflito armado. Ele ainda precisa da aprovação dos eleitores colombianos em um referendo marcado para 2 de outubro, mas caso isso aconteça, as FARC irão se transformar em um novo partido político.

A nova legenda deve se chamar Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia (MBNC), o braço política das Farc criado em 2000. O partido deve seguir ideais marxistas, se colocando como representante dos pobres das zonas rurais contra os colombianos ricos e se opondo a privatizações, além de pregar uma reestruturação do exército colombiano.

União Patriótica

Não será a primeira vez que guerrilheiros das Farc tentam a sorte na política. Durante um cessar-fogo em 1984, as Farc formaram o partido União Patriótica, sob promessas de proteção do governo. No entanto, o grupo não abandonou as armas antes de entrar no cenário político. Na realidade, alguns líderes rebeldes encaravam o União Patriótica como a ferramenta ideal para espalhar a mensagem de luta armada pelo país e recrutar mais combatentes. Assim, quando os candidatos do partido começaram a ganhar terreno em eleições, militantes de direita acusaram o partido de abrir caminho para um golpe. O resultado foi um banho de sangue que o governo colombiano fez pouco para conter.

Ao todo, 3 mil membros do União Patriótica, incluindo dois candidatos presidenciais e dezenas de vereadores, prefeitos e congressistas foram mortos, muitos por esquadrões da morte atuando em conluio com o exército colombiano. Ativistas dos direitos humanos chamaram o episódio de “genocídio político”.

Conselho de Lula

Hoje, a decisão dos guerrilheiros de trocar as armas pelas urnas segue um conselho dado pelo ex-presidente Lula, que em 2009 afirmou em uma entrevista coletiva: “Se, em um continente como o nosso, um índio e um metalúrgico podem chegar à Presidência, por que alguém das Farc, disputando eleições, não pode?”.

O reconhecimento pelas FARC da ordem constitucional da Colômbia representa o fim de uma vertente de violência stalinista que atormentou a América Latina por décadas. O acordo não é perfeito, mas os colombianos deveriam aprová-lo.

A parte mais controversa diz respeito às possíveis punições contra aqueles que cometeram crimes horríveis contra não combatentes. Tanto as Farc como o exército colombiano e grupos paramilitares de direita assassinaram civis, e os responsáveis por tais crimes deviam ir para a prisão, mas sob o acordo de paz, eles ficarão em liberdade se confessarem. Guerrilheiros e soldados acusados de tais crimes terão uma audiência em um tribunal especial e se forem condenados, prestarão serviços comunitários por até oito anos. É compreensível que muitos colombianos achem isso difícil de engolir, e as pesquisas de opinião pública mostram que o referendo terá votação apertada.

No entanto, a rejeição ao acordo seria uma tragédia para o país. Cerca de 2 mil confrontos armados aconteceram apenas em 2013. Regiões rurais que suportaram o peso da guerra estão desesperadas pela paz. Os colombianos têm a chance de acabar com um dos conflitos mais duradouros do mundo e eles deviam aproveitá-la.The Economist

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