Atleta paralímpica já tem documentação para eutanásia

DIREITO DE MORRER

Nos Jogos do Rio, ela vai disputar os 100 e 400 m (Foto: Facebook/ Wielemie - Marieke Vervoort)

A atleta belga Marieke Vervoort, de 37 anos, espera conseguir uma nova medalha nos Jogos Paralímpicos do Rio. Afinal de contas, ela anunciou que este será seu último desafio esportivo. Diagnosticada com uma doença degenerativa incurável, ela perdeu os movimentos da metade inferior do corpo. No entanto, quem vê a atleta sorridente nas pistas, não imagina como sua vida é marcada por dores insuportáveis. A atleta já tem um documento com sua assinatura que autoriza um médico a aplicá-la uma injeção letal para acabar com sua vida quando desejar.

A Bélgica é o país com as leis mais permissivas sobre a eutanásia do mundo. Até menores de idade podem optar pela morte assistida se tiverem consentimento dos pais e um relatório psiquiátrico que legitimem a decisão. No entanto, este não é um trâmite administrativo rápido. Marieke precisou convencer um psiquiatra de que sua decisão não tinha relação com um estado de espírito momentâneo, além de precisar provar a três médicos diferentes que suas dores são tão intensas que ninguém conseguiria viver com elas e que não existe nenhuma esperança para sua melhora.

Tudo começou com uma dolorosa inflamação em um pé aos 14 anos, problema que passou para os joelhos. Aos 20 anos, ela já dependia de uma cadeira de rodas para se locomover. A campeã dos 100 metros livres nos Jogos de Londres 2012 tem dores tão fortes que não consegue dormir em algumas noites. Como ela mora na cidade de Diest, um casal amigo a leva três dias por semana até Lovaina, 30 quilômetros de onde vive, porque é lá que seu treinador a espera. Rudi Voels, de 52 anos, é um dos técnicos mais respeitados da Bélgica e foi responsável pela equipe de revezamento que ganhou medalha em Pequim 2008. Marieke é a única atleta paralímpica sob sua responsabilidade. “Nunca quer perder um treinamento. Às vezes vem com muita dor e a obrigo a voltar para casa”, conta Voels. Como complemento ao treinamento na pista, ela passa três dias por semana na academia.

Nos Jogos do Rio, ela vai disputar os 100 e 400 m. Para a viagem, ela terá de trazer quase vinte medicamentos diferentes. E sim, ela também se submete a exames das autoridades antidoping.

Como vive sozinha com seu cachorro, uma enfermeira a visita quatro vezes por dia. Ela avalia sua saúde, a acompanha ao banheiro e a ajuda a trocar de roupas. Em caso de ataque epilético e dor insuportável, Marieke só precisa apertar um botão para que alguém venha ajudá-la a qualquer hora.

Ela já praticava esportes antes de seu problema de saúde, mas a perda da mobilidade na parte inferior do corpo acelerou sua dedicação. Começou com basquete de cadeiras de rodas e o triatlo até chegar no atletismo.

Engana-se quem acha que tentam fazer a cabeça de Marieke para que ela desista da eutanásia. Sua família, seus amigos e seu treinador aceitam sua decisão. “Quando quiser posso pegar meus documentos e dizer basta! Quero morrer. Isso me tranquiliza quando tenho muita dor. Não quero viver como um vegetal.”

“As pessoas sempre me veem sorrindo e praticando esportes, mas não é o que acontece quando estou em casa.” Quando a hora chegar, ela espera que seus pais e amigos tenham forças para estar ao seu lado na cama. Deixou uma carta para que leiam quando ela se for e quer um ato alegre, com músicos. Depois deseja ser cremada. “Quero que lancem minhas cinzas em Lanzarote, onde a lava se une com o mar. Um lugar que me transmite paz e tranquilidade. Quero terminar ali.” El País

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