TENDÊNCIAS E DEBATES


Trocando gente por Robô


Robôs no mercado podem acabar com produção chinesa

O crescimento econômico chinês nas últimas décadas tem se baseado em reverter a tendência mundial de automação. O país investiu fortemente em usar força humana em vez de máquinas na cadeia produtiva. A taiwanesa Foxconn, no entanto, surpreendeu ao anunciar nesta semana que vai trocar boa parte do seu quadro de funcionários por 1 milhão de robôs até 2014.

Com atuais 1,2 milhão de funcionários, a Foxconn conta atualmente com 10 mil robôs que operam máquinas de soldagem, borrifo de químicos e montagem. O plano é aumentar esse total para 300 mil já no ano que vem. Maior montadora de eletrônicos do país, a empresa produz componentes para Dell, HP, Sony Ericsson e, principalmente, para Apple e Nokia.

A motivação do presidente e do fundador da Foxconn, Terry Gou, parece ser a otimização da produção e o corte em despesas. E é nesse segundo tópico que o panorama complica mais. As condições de trabalho no país têm causado muitas greves na China — vide no último ano as da Honda e Toyota –, nas quais os trabalhadores pedem por salários mais dignos e redução das 12 horas de trabalho diárias sem pausas durante seis dias da semana. O aumento do salário mínimo legal e a crescente demanda por mão-de-obra qualificada representou um aumento nos gastos empresariais.

Outro lado mais perverso do aumento de custos é com relação ao crescente número de suicídios nas empresas Foxconn – no ano passado, foram registrados 13 casos. A Foxconn se viu obrigada a investir em aconselhamento psicológico e em colocar redes em seus prédios para evitar o número crescente de trabalhadores suicidas. Tudo isso é entendido como custos maiores. Em 2010, a empresa divulgou um prejuízo líquido de US$ 218,3 milhões.

Em nota, a Foxconn falou sobre o “desejo de mover funcionários das tarefas rotineiras para posições com maior valor agregado, como pesquisa e desenvolvimento, inovação e outras áreas que são igualmente importantes para o sucesso de nossa operação”.

A China, com o maior público consumidor em potencial, está rapidamente aumentando o poder aquisitivo de sua classe média. O uso massivo de robôs na linha de produção, no entanto, além de diminuir a quantidade de assalariados, retira milhares de trabalhadores da cadeia de consumo doméstico de produtos.

Até determinado ponto, o mercado tem capacidade de realocar os trabalhadores para outros segmentos, o restante não absorvido vira desempregado. Muitas fábricas chinesas, temendo perder esse público e as facilidades de produção na China, estão optando por transferir suas fábricas para províncias mais baratas do interior da China do que deixar o país.

Especialistas e economistas têm debatido se o crescimento no custo de trabalhadores no país vai levar ao fim dos “negócios da China”. Eles discutem até que ponto as empresas estão dispostas a se deslocar para outras partes da Ásia para continuarem suas produções de bugigangas baratas, ou trazê-las de volta para seus países de origem.

Por Layse Ventura

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