O mito do ‘lobo solitário’

Termo 'lobo solitário' é amplamente usado por formadores de opinião para descrever terroristas (Foto: Pexels)

Este mês, a Europa voltou a sofrer uma série de ataques terroristas chocantes cometidos por indivíduos em nome do Estado Islâmico (Isis).

Em 14 de julho, Mohamed Lahouaiej Bouhlel atropelou centenas de pessoas, matando 80, durante as comemorações do Dia da Bastilha, na cidade francesa de Nice. Poucos dias depois, um imigrante afegão atacou passageiros de um trem em Würzburg, na Alemanha, ferindo quatro com um machado e uma faca antes de ser morto pela polícia. Dois outros ataques em nome do Isis aconteceram desde então: um atentado suicida em 24 de julho que feriu 15 na cidade alemã de Ansbach e a invasão a uma igreja em 26 de julho, na cidade francesa de Rouen, onde dois criminosos degolaram um padre e fizeram reféns.

Esses atentados fazem parte de uma tendência mais ampla de aumento da violência, supostamente levada a cabo por indivíduos solitários. Analistas, jornalistas e estudiosos têm sido rápidos em rotular cada autor dos ataques recentes como um “lobo solitário”: indivíduos sem conexões substanciais com o Isis ou outros grupos jihadistas e que realizaram seus massacres sem a ajuda de outros.

A designação, geralmente, é aplicada menos de 24 horas após o incidente, antes mesmo que os serviços de inteligência possam concluir investigações sobre planejamento e execução do ocorrido. Menos de um dia após o ataque de Nice, por exemplo, observadores descreveram Bouhlel como um lobo solitário sem ligações com o Isis.

Menos de uma semana depois, autoridades francesas revelaram que Bouhlel pode não ter agido sozinho. Vários indivíduos, a quem os investigadores descreveram como tendo “simpatias jihadistas”, foram detidos em conexão com o massacre.

Na maioria dos casos, os indivíduos tachados de lobos solitários trocaram mensagens com outros militantes, usando serviços codificados que são difíceis de detectar.

Graças à popularidade das mídias sociais e o aumento das comunicações criptografadas, a radicalização e o planejamento operacional podem acontecer totalmente online atualmente.

O Isis tem tirado vantagem dessas novas tecnologias de comunicação, construindo comunidades coesivas online que promovem uma sensação de “intimidade à distância” e assim facilitam a radicalização.

Está claro que poucos jihadistas rotulados de lobos solitários realmente se encaixam nessa definição. Enquanto esses criminosos forem classificados falsamente, o mundo não conseguirá sequer começar a combatê-los de forma eficaz. É hora de desfazer esse mito. Precisamos de um modelo melhor para entender o terrorismo na era digital.
Foreign Affairs

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