MÉXICO PROSTITUIÇÃO

Projeto procura transformar realidade da prostituição na Cidade do México

EFE/Mario Guzmán

A menção a La Merced, um bairro situado no centro da Cidade do México, remete a uma paisagem na qual convergem a delinquência, o comércio e a prostituição.

Muitas das 3 mil mulheres que trabalham como prostitutas dedicaram a maior parte da vida a vender o corpo, o que prejudicou suas condições físicas, emocionais e mentais.

"A maioria delas foi vítima de abusos, exclusão, marginalização, discriminação, exploração e falta de identidade, o que causou graves sequelas", explicou à Agência Efe a assistente social Paulina Flores.

Atualmente, estima-se que haja aproximadamente 70 mil mulheres imersas no comércio sexual na Cidade do México, número que inclui mulheres em condições de escravidão e servidão sexual.

Mas foi justamente em La Merced onde Flores, junto com um grupo de estudantes e uma professora da Escola Nacional de Trabalho Social (ENTS) da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), buscou uma forma de reduzir esses danos psicossociais que atingiram mulheres imersas no comércio sexual.

"Assim surgiu Lady Meche, um projeto que consiste em criar estratégias e projetos de intervenção social com estas mulheres", explicou Natalia Martínez, uma das envolvidas na iniciativa.

Através de estratégias comunitárias, acompanhamento de casos e oficinas de arte, saúde e elaboração de objetos, as especialistas conseguiram se envolver com estas mulheres a fim de entender e atender seus principais problemas.

"Detectamos que uma das principais incógnitas era o futuro trabalhista. Em La Merced, quando já têm 25 anos, você é considerada velha para a atividade, e aos 35 é considerada improdutiva", explicou Martínez.

Como resposta a esta problemática, ambas as especialistas, junto com Karina López e María Elena García, esta última acadêmica da ENTS, decidiram que, através do projeto Lady Meche, poderiam oferecer uma possibilidade de trabalho real baseado na produção e venda de produtos cosméticos.

"Queríamos ter uma empresa social para gerar lucro financeiro, mas sobretudo oferecer uma alternativa real. Não propusemos que abandonem sua atividade, mas sim que possam escolher onde querem estar", detalhou Martínez.

E foram as mesmas mulheres envolvidas no projeto que expressaram o desejo de ter algo próprio, um negócio, algo formal e estabelecido.Então, as especialistas deram forma à ideia e como resultado surgiu a elaboração de um lápis labial artesanal com a marca Lady Meche, o qual esperam que possa ser vendido no segundo semestre deste ano.

"Queremos que este produto simbolize parte da história e identidade que construíram no bairro de La Merced e com isso converter este grupo social em mulheres empreendedoras", explicou Flores.

O produto será produzido pelas prostitutas de maneira artesanal, após uma capacitação profissional, e será apresentado em três coleções: doces, flores e frutas, em homenagem aos mercados do bairro.

Até agora, Lady Meche não conseguiu obter financiamento para desenvolver a ideia, ainda que tenha sido reconhecido com o Prêmio UVM pelo Desenvolvimento Social 2017, o qual foi entregue ao projeto pela Universidade do Vale do México (UVM).

No entanto, as trabalhadoras sociais consideram que este projeto já conseguiu ter um impacto nas mulheres com as quais trabalharam.

"Elas exercitaram sua memória, estudaram para socializar, porque uma das características que elas têm é que, devido à realidade que vivem, estão acostumadas a esquecer e seguir adiante", explicou Martínez.

O plano é que no futuro estas mulheres possam ter habilidades sociais, psíquicas e tolerância à frustração.

Por fim, reconhecem que o principal objetivo é se tornar uma empresa que tenha um impacto social.

"Queremos ser uma plataforma de trabalho formal. Se elas não gostam de fazer cosméticos, poderão procurar outro lugar com uma carta de recomendação, mas sabendo que podem fazer algo a mais e deixando de pensar que só servem para se prostituir", concluiu Flores.EFE

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