TAILÂNDIA REFUGIADOS

Tecnologia móvel aproxima rohingyas no exílio das famílias em Mianmar

Hajee Ismail usando o aplicativo WeChat . EFE/ Gaspar Ruiz-Canela

A tecnologia móvel tem ajudado membros da minoria muçulmana rohingya no exílio a se comunicar com amigos e familiares em Mianmar, de onde fugiram de uma operação militar de "limpeza étnica", de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Em um escritório no norte de Bangcoc, na Tailândia, Hajee Ismail usa o aplicativo WeChat para falar com um amigo no estado de Rakhine, no oeste de Mianmar e terra natal desta minoria apátrida. O amigo, um rohingya identificado apenas como Furuk, diz que, por enquanto, a situação está tranquila em Bhutidaung, onde ele mora, perto da fronteira com Bangladesh.

"Ninguém pode se movimentar livremente, só dentro da cidade", disse Hajee à Agência Efe em um escritório com mapas e fotos de onde ele coordenada uma um negócio de distribuição de gelo.

Hajee, que chegou à Tailândia em 1995, também é diretor da Rohingya Peace Network, uma organização ajuda os rohingyas que fogem de Mianmar.

Antigamente, ele tinha o costume de telefonar de tempos em tempos para amigos e familiares, mas a comunicação era difícil e cara. Agora, isso é resolvido com a internet e tecnologia móvel. Hajee também utiliza aplicativos de mensagem para falar com o pai, Noor Islaam, um antigo professor universitário de 74 anos que se nega a sair de Bhutidaung, onde mora com duas filhas e um neto, apesar da tensão.

"Meu pai tem medo, mas diz que prefere morrer lá (em Rakhine)", explicou o exilado, que se casou com uma tailandesa e agora tem direito a residência permanente no país.

A tailandesa Puttanee Kangkun, especialista em direitos humanos da ONG Fortify Rights, explica que o celular facilita a comunicação entre os rohingyas e a transmissão de informação para Rakhine.

"Eles usam o WeChat para trocar mensagens e se comunicar com familiares em Myanmar e outros países", contou ela, que tem mais de dez anos de experiência na área e que lembra a importância de verificar a veracidade das informações transmitidas.

A internet teve papel fundamental durante os protestos contra a antiga junta militar de Mianmar, em 2007, quando ativistas e blogueiros conseguiram transmitir pela rede informações e fotos da repressão do Exército nas manifestações. Nos últimos anos, o Facebook se tornou uma ferramenta relevante para milhões de birmaneses, ainda que também uma fonte de desinformação e rumores contra algumas minorias como os próprios rohingyas.

Esta minoria muçulmana, que tem a cidadania e outros direitos negados pelas autoridades birmanesas, foi vítima de uma "limpeza étnica" do Exército nos últimos meses, segundo o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Mais de 650 mil rohingyas fugiram para Bangladesh desde agosto do ano passado, onde muitos refugiados desta minoria acusam soldados birmaneses de estupros, assassinatos e de incendiar as suas casas.

Tanto a Rohingya Peace Network quanto a Fortify Rights afirmam que a onda de violência provoca o êxodo de rohingyas, como a que aconteceu em 2015.

Naquele ano, a Polícia da Tailândia desarticulou uma rede de tráfico de seres humanos que controlava os barcos com refugiados que chegavam de Minanmar. Eles prendiam os rohingyas em campos em ambos lados da fronteira malaio-tailandesa, onde eram maltratados e alguns foram assassinados ou morreram pelas condições insalubres.

Nesse caso, os traficantes também se aproveitavam da tecnologia móvel para organizar a sua rede internacional e pressionar os familiares dos reféns para o pagamento de resgate que em alguns casos chegava a US$ 1.500.

Gaspar Ruiz-Canela.EFE

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