PROTEÇÃO À FAMÍLIA JAPÃO

Morte de criança desperta Japão para abuso infantil

Premier pediu aos ministros providências para criar mecanismos mais eficazes de vigilância contra casos de abuso infantil (Fonte: Reprodução/picture-alliance/NurPhoto)

A história comovente da menina Yua Funato de 5 anos, que morreu após meses de maus-tratos e subnutrição abalou um país que se orgulha dos valores tradicionais da sociedade japonesa de proteção à família e aos seus membros mais vulneráveis.

Diante da reação popular, o primeiro-ministro Shinzo Abe pediu aos ministros providências imediatas para aumentar o número de centros de assistência social no país e de criar mecanismos mais eficazes de vigilância contra casos de abuso infantil.

Yua morreu em um hospital no bairro de Meguro, em Tóquio, em razão de atos de violência doméstica cometidos pela mãe, Yuri, de 25 anos, e do namorado Yudai, de 33 anos, durante meses. O padrasto obrigava a menina a acordar às quatro da manhã para estudar e a espancava se não cumpria suas ordens. A mãe e o padrasto não lhe davam comida suficiente. Segundo a polícia, Yua pesava apenas 12 kg quando morreu em março. O laudo da autópsia revelou que ela morrera de septicemia provocada por uma pneumonia. O relatório do médico legista mencionou que o corpo e a cabeça de Yua eram cobertos de hematomas.

O casal tem um filho, a quem tratavam bem, ao contrário de Yua. A história de Yua chocou ainda mais a opinião pública por causa dos bilhetes pungentes escritos em sua caligrafia infantil em um caderno, em que prometia se comportar melhor e pedia perdão à mãe e ao padrasto por seus supostos erros.

A calçada em frente ao apartamento da família transformou-se em um santuário para Yua, com flores, brinquedos, lanches e bilhetes de condolências deixadas pelos vizinhos e visitantes. Os canais de televisão mostraram pessoas rezando em silêncio no local.

“Não consigo entender como uma mãe pode ser tão má com uma criança de 5 anos e tão negligente em relação ao comportamento abusivo do namorado”, disse Kanako Hosomura, que tem um filho da mesma idade de Yua.

Hosomura também fez a pergunta que muitos tinham em mente desde a divulgação do caso. Um centro de proteção à criança havia colocado Yua sob custódia duas vezes devido à violência do padrasto, mas a menina retornara ao convívio da família depois da promessa da mãe e do companheiro de assistirem palestras de orientação de pais para a educação infantil.

Pouco antes da morte de Yua, sua mãe proibiu a entrada de assistentes sociais à sua casa, mas, mesmo assim, os responsáveis ​​pela defesa e proteção de crianças não adotaram medidas urgentes de intervenção.

“No passado, o marido era o chefe da família e só ele era o responsável por todas as decisões referentes aos problemas familiares”, disse Fuijko Yamada, fundadora da ONG Child Maltreatment Prevention Network há 20 anos. “Tradicionalmente, isso significava que a polícia, os tribunais e demais autoridades não se envolviam com os problemas das famílias. Mas o conceito de família mudou em um curto espaço de tempo e a sociedade não percebeu a importância dessa mudança”, acrescentou.

No entanto, independente dos motivos que levaram a mãe e o padrasto de Yua a cometerem atos de extrema crueldade com a criança, sua morte atraiu a atenção para uma série de casos semelhantes.

No início de junho, a polícia de Kagoshima, no sul do Japão, encontrou um recém-nascido dentro de uma caixa de papelão em um banheiro público. Poucos dias depois, um homem desempregado de 32 anos foi preso por suspeita de jogar água fervendo nos braços do filho de 3 anos da namorada.

Em 12 de maio, um casal da prefeitura de Kagawa foi preso acusado de matar o filho de 13 anos de desnutrição ao longo de 10 meses. Ao ser hospitalizado, o menino pesava 32 kg e mal conseguia andar. E, em 18 de junho, a polícia de Kitakyushu prendeu um homem de 27 anos por ter trancado o filho de 4 anos em um armário embaixo de uma mesa de televisão. A criança morreu devido à privação de alimentos e cuidados.DW

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