PARCERIA IMPOSSÍVEL- Aliança com a Rússia é um delírio de Trump

Interesses de Putin estão bem distantes dos de Trump (Foto: Flickr/Michael Vadon)

George W. Bush, quando presidente dos EUA, pensou ter decifrado a alma de Vladimir Putin. Ele estava errado. Barack Obama pretendia dar um novo início às relações entre Washington e Moscou, mas encerrou seu segundo mandato com a Rússia anexando a Crimeia, alimentando conflitos na Ucrânia e preenchendo o vácuo de influência deixado pelos EUA na Síria.

Agora, Donald Trump pretende ir ainda mais longe que seus antecessores, propondo um novo alinhamento estratégico com a Rússia. Será ele bem sucedido ou apenas o terceiro presidente americano consecutivo a ser driblado por Putin?

Os detalhes do alinhamento proposto por Trump ainda são vagos, em parte por conta de divergências entre ele e sua própria equipe de governo. O fato do embaixador nomeado por Trump para a ONU ter condenado publicamente “os atos de agressão da Rússia”, não cessou o flerte latente de Trump com Putin.

Prova disso, foi a declaração dada por ele em entrevista a um repórter da Fox News, quando este classificou Putin como “um assassino”. “Há muitos assassinos. O que? Você acha que nosso país é tão inocente?”, rebateu Trump.

O fato de um presidente americano sugerir que seu país é tão homicida quanto a Rússia é algo sem precedentes, errado e um presente para os propagandistas de Moscou. E o fato de Trump pensar que Putin tem muito a oferecer aos EUA é um erro de cálculo não apenas do poder e dos interesses da Rússia, mas também do valor do que os EUA teriam de dar em retorno.

Em sua verborragia, Trump sugere uma aliança entre EUA e Rússia para destruir o fundamentalismo islâmico. Em troca, ele diz que a Rússia abandonaria sua aliança com o Irã, um antigo antagonista dos EUA no Oriente Médio e rival dos aliados americanos Bahrein e Arábia Saudita. Na Europa, a aliança russo-americana faria Moscou deixar de assediar os membros da Otan. Em longo prazo, os russos seriam um aliado crucial, na guerra que o governo Trump acredita que será travada com a China em até cinco anos.

Parece ótimo, mas os interesses da Rússia estão bem distantes disso. E o fato de Moscou ter auxiliado a eleição de Trump através de espionagem não significa que Trump tem em Putin um aliado.

Na Síria, por exemplo, a meta da Rússia não é exterminar o Estado Islâmico, mas sim ajudar a consolidar o governo de Bashar al Assad, que esta semana foi revelado ter enforcado milhares de sírios após interrogatórios de menos de meia hora.

A Rússia também não pretende abandonar a aliança com o Irã. As tropas iranianas são um complemento para a força aérea russa. Além disso, o Irã oferece um ótimo mercado para as exportações russas.

A ideia de uma aliança em uma guerra contra a China é ainda menos realista. Com sua economia em declínio e um exército menor, a Rússia é muito mais fraca que a China. Putin não tem capacidade nem interesse em arrumar um embate com Pequim. Ao contrário, ele valoriza a parceria comercial com o país, teme sua força militar e tem muito em comum com o governo chinês, incluindo a inclinação para rixas com vizinhos.

O plano de aliança de Trump com a Rússia é um delírio. Cabe aos conselheiros do presidente americano dissipar essa ideia antes que seja tarde.The Economist

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A surpreendente cratera de Xico

Por que não enxergamos estrelas verdes ou roxas?

Egípcia posa nua em blog e provoca indignação