ELEIÇÕES AMÉRICA LATINA

Democracia em risco na América Latina

A democracia, que inspirou as ideias do Grupo de Lima, está ameaçada (Foto: Pixabay)

A última vez que os líderes de 30 países da América se reuniram na Cúpula das Américas realizada no Panamá, em 2015, os presidentes dos Estados Unidos e de Cuba, inimigos de longa data, cumprimentaram-se. Quando o grupo se reuniu em Lima nos dias 13 e 14 de abril, o clima de bonomia e coesão havia desaparecido. Raúl Castro, que deixou o cargo de presidente de Cuba em 19 de abril, enviou o ministro das Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, como seu representante.

Logo no início, Rodríguez criticou o “imperialismo dos Estados Unidos”. O vice-presidente Mike Pence, representante do governo dos EUA, chamou o regime cubano de “despótico”. Os dois escolheram citações inspiradas no líder da independência da América Latina, Simón Bolívar, para se agredirem. O vice-presidente Pence disse que “um povo que ama a liberdade será, por fim, livre”, ao que Rodríguez retrucou que, “os Estados Unidos parecem destinados pela providência divina a atormentar a América em nome da liberdade”. É possível que na imaginação de Pence ele tenha vencido o duelo.

No grande tema de discussão sobre a situação política e econômica da Venezuela, os participantes da cúpula concordaram com a posição dos EUA. Porém, essa era uma questão específica sem relação com a liderança americana. Trump é o primeiro presidente dos Estados Unidos que não compareceu à Cúpula das Américas desde sua criação em 1994. Apesar da desculpa que a situação na Síria exigia sua presença no país, a ausência reforçou a ideia que sua visão sobre a América Latina alterna momentos de indiferença e desprezo.

Os países com economias mais fortes apoiaram a posição dos EUA quanto à Venezuela, porque são democracias, com líderes moderados, que assistem à ruína do país pelo governo autocrático de Nicolás Maduro. O encontro mostrou que a região pode, por enquanto, enfrentar seus problemas sem o envolvimento errático dos EUA. No que se refere ao comércio, por exemplo, as ameaças protecionistas de Trump incentivam uma cooperação maior entre os países latino-americanos. Porém, o que acontecerá quando os líderes atuais forem substituídos nas próximas eleições presidenciais?

A resposta regional à crise na Venezuela foi liderada pelos 14 países do Grupo de Lima. Pedro Pablo Kuczynski, ex-presidente do Peru, desfez o convite feito a Maduro para participar do evento, apesar dos protestos de Cuba e de outros países. Dezesseis participantes, inclusive Mike Pence, pediram garantias a Maduro para a realização de uma eleição presidencial justa e honesta em maio. A imposição de sanções mais duras ao regime de Maduro prejudicariam os venezuelanos, disse Martín Vizcarra, o atual presidente do Peru em substituição a Kuczynski.

Todos os representantes presentes ao encontro prometeram combater com mais vigor a corrupção. Mas assim como a reação à crise na Venezuela, esse compromisso foi em grande parte simbólico. Muitos líderes reunidos em Lima estão envolvidos em escândalos de corrupção. As acusações de suborno prejudicam as eleições presidenciais no Brasil e no México.

A democracia, que inspirou as ideias do Grupo de Lima, está ameaçada. No México, o candidato favorito é um populista de esquerda, Andrés Manuel López Obrador. A eleição no Brasil ainda é uma incógnita. Os eleitores podem com facilidade serem atraídos por promessas de candidatos populistas de luta contra a corrupção. Mas é pouco provável que esses candidatos consigam construir instituições fortes, que constituem a base de um governo honesto. Caso isso aconteça, o envolvimento dos EUA, mesmo errático, será importante para preservar os regimes democráticos e íntegros da América Latina.The Economist

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