LIVRO RITZ

Como César Ritz transformou os hotéis em lugares requintados

Junto com Auguste Escoffier, um chef de cozinha, César Ritz transformou os hotéis em lugares requintados (Fonte: Reprodução/Alamy)

Em 25 de maio de 1895, o escritor Oscar Wilde foi condenado a dois anos de prisão, com trabalhos forçados, por “atentado ao pudor”. Em Londres, as fofocas giravam em torno dos três personagens mais glamourosos do escândalo: Wilde, seu amante, lorde Alfred Douglas, e o hotel Savoy, onde Wilde e Douglas hospedaram-se durante um mês.

De acordo com os mexericos, eles jantaram como reis, tomaram sopa de tartaruga e beberam champanhe. Os dois tinham deixado manchas nos lençóis caros do hotel. César Ritz, gerente do Savoy, ficou extremamente aborrecido, não pelo desrespeito à moral, mas pela indiscrição do hotel. Um hoteleiro deve ser “discreto”, disse.

Ritz sentiu que fracassara em proteger a privacidade de seu hóspede. Mas esse foi um dos poucos fracassos de sua vida. Como escreveu Lucas Barr em Ritz and Escoffier: The Hotelier, the Chef and the Rise of the Leisure Class, no final do século XIX, esse hoteleiro, junto com Auguste Escoffier, um chef de cozinha, transformou os hotéis em lugares requintados onde os hóspedes se deliciavam com a sobremesa Peach Melba, inventada por Escoffier, e bebiam licor Grand Marnier recomendado por Ritz. César Ritz tornou-se um sinônimo de luxo e originou o neologismo “ritzy” definido no Dicionário Oxford como “caro e sofisticado”.

Contratados para modernizar o hotel Savoy, em Londres, Ritz e Escoffier ficaram chocados com a falta de requinte dos hotéis londrinos, com suas cozinhas sujas e chefs grosseiros e, muitas vezes, bêbados. Juntos, eles revolucionaram os costumes da sociedade londrina. Ritz substituiu os objetos sem valor e a decoração do Savoy por elegantes palmeiras e jarros de flores. Escoffier instalou luz elétrica na cozinha impecavelmente limpa e exigia um comportamento sóbrio de seus ajudantes (“Não somos bêbados, mas sim cozinheiros”).

A comida era servida com molhos delicados e os hóspedes bebiam os melhores champanhes. Com um ar de extravagância fin de siècle, Johann Strauss e sua orquestra tocavam durante as refeições. Os hóspedes ganhavam pequenos pessegueiros e cerejeiras, e cortavam as frutas com tesouras douradas.

Os historiadores em geral preferem temas mais sérios. Eles se interessam por reis ecrises políticas, não por uma culinária sofisticada. Porém, os costumes da sociedade são um retrato de sua época. O dinheiro e o lazer já não eram mais um privilégio dos aristocratas. Agora, a nova classe social divertia-se nos salões da cadeia de hotéis que Ritz criara com seu nome.

O costume da aristocracia de receber seus convidados em casa também mudara. Os membros da alta sociedade como o duque d’Orléans, a princesa Alexandra e o príncipe de Gales frequentavam com seus amigos os hotéis Ritz. Um triunfo para ele, o filho de um camponês suíço que nunca esquecera suas origens. Ritz pode ter se sentido envaidecido com a presença desses personagens em seus hotéis, mas hoje, ao contrário de Ritz, um homem que brilhou só nos bastidores, seus nomes não pertencem à história.The Economist

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