Os paradoxos da globalização e da desigualdade mundial

Ao analisar dados por país, gráficos desse tipo tendem a fazer curvas ascendentes ou em sentido oposto (Foto: Free stock photos)

O “gráfico do elefante” surgiu em 2012 escondido em meio a um artigo do Banco Mundial do economista Branko Milanovic, um dos maiores especialistas mundiais em desenvolvimento econômico e desigualdade. O gráfico ganhou alguns destaques no New York Times em 2014 e elogios no novo livro de Milanovic, Global Inequality: A New Approach for the Age of Globalisation, publicado no início deste ano.

Ao longo do tempo o gráfico adquiriu fama, foi comentado nas redes sociais, atraiu a atenção de corretores de bolsas de valores e inspirou um discurso ministerial. “Estou prestes a trazer um elefante para esta sala. Um elefante selvagem, zangado e perigoso”, disse a ministra do Comércio da Holanda, Lilianne Ploumen, no mês passado, antes de mostrar o gráfico à sua plateia.

Agora, os críticos estão tentando matá-lo com um tiro.

O gráfico resumiu os resultados de pesquisas realizadas com 196 famílias no mundo inteiro. Foi criado a partir da avaliação da população mundial, desde os 10% dos mais pobres até o 1% dos mais ricos, em 1988 e mais uma vez em 2008. Em cada avaliação, o gráfico mostrou o crescimento da renda entre esses dois anos, no auge da globalização no período da queda do Muro de Berlim à falência do Lehman Brothers.

Ao analisar dados por país, gráficos desse tipo tendem a fazer curvas ascendentes (os ricos ganham mais do que os pobres) ou em sentido oposto. Já em um gráfico com uma análise mundial as curvas sobem, descem, sobem de novo, como a letra S invertida, ou como um elefante levantando a tromba. O gráfico mostrou um grande aumento de renda na classe média e alta. Mas a era da globalização não foi generosa com as pessoas da classe intermediária. As famílias com 75% a 85% da distribuição de renda, que eram mais pobres do que os 15% da classe alta, porém eram mais ricas do que as demais, não estavam em uma situação econômica muito melhor do que há 20 anos.

Essas famílias constituíam os 10% dos descontentes, espremidos entre os plutocratas de seus países e a classe média da Ásia. Esse desequilíbrio na distribuição de renda explicou uma série de fatos, como “os fenômenos de Donald Trump, do nacionalismo e do Brexit”, escreveu o editor de Milanovic.

Em 1988, os latino-americanos com uma situação econômica melhor e os ocidentais com uma renda modesta dominavam a faixa de 75% a 85% da distribuição mundial de renda. Em 2008, essa faixa de renda passou a ser ocupada pelos chineses ricos. A estagnação da renda mostrada no gráfico do elefante, portanto, não refletiu a situação da riqueza dos partidários de Trump e do Brexit. Os dados mostraram uma comparação entre os latino-americanos e os ocidentais que ocupavam essa faixa de renda em 1988 e a prosperidade dos chineses 20 anos mais tarde.

Esses elementos não são novidade para os leitores dos trabalhos acadêmicos de Milanovic. Ele e o coautor do artigo, Christoph Lakner, foram claros na descrição da mudança na composição do percentual dos 10% dos descontentes. O artigo também incluiu um gráfico alternativo, que esclarece um dado que muitas pessoas acreditavam que constava do gráfico do elefante. A proposta alternativa descreveu como a renda dos grupos em cada país em 1988 evoluiu ao longo dos 20 anos seguintes.The Economist

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