Combate à malária


Uma modificação faria inseto ser incapaz de reconhecer o cheiro humano (Reprodução/Alamy)

Cientistas usam mosquitos no combate à malária

Livrar uma região da malária é, ao menos na teoria, razoavelmente simples. O mosquito fêmea transmite a doença ao se alimentar de sangue infectado, gesta o parasita causador da malária (chamado de esporozoíto), e finalmente os injeta na corrente sanguínea de uma outra vítima em uma refeição posterior. Quebre qualquer parte desse ciclo e o parasita não pode se reproduzir; continue a fazê-lo e você pode impedir qualquer epidemia de malária. Porém, na prática, quebrar o ciclo da malária requer muito trabalho. Itália e América do Sul erradicaram a doença drenando pântanos, espalhando inseticida, melhorando a medicação e introduzindo aparelhos de ar condicionado, portas com telas e mosquiteiros. Mas para muitos lugares, incluindo a maioria da África, recursos para um plano amplo e sustentável estão fora de alcance.

É por isso que estive em um laboratório na última primavera na Itália central observando mosquitos em confinamento. O cientista encarregado do laboratório, Andrea Crisanti, parasitologista e microbiólogo do Imperial College London, desenvolveu uma técnica que permite espalhar uma modificação genética por gerações de insetos. “Em uma ou duas estações você pode atacar implacavelmente uma população selvagem em um determinado local”, ele diz. Esta descoberta, anunciada na edição de abril da revista Nature, permite substituir os mosquitos da malária de uma determinada área por aqueles geneticamente modificados. Dê a eles características que possam cortar a transmissão da malária e a epidemia será provavelmente derrotada.

Uma modificação faria o inseto ser incapaz de reconhecer o cheiro humano. Outra reduziria significativamente a vida útil do mosquito, dando ao parasita menos tempo para se reproduzir antes de morrer junto com o hospedeiro. Aquela a qual Crisanti atribui a maior chance de sucesso mataria a fêmea do mosquito no seu estágio embrionário, deixando os machos encarregados de espalhar a modificação até que o desequilíbrio sexual resultante cause a aniquilação da população.

Um amplo consenso público acha que essas alternativas brincam com a natureza de maneira imprudente; que a seleção darwiniana irá superar as barreiras mais engenhosas, e que, nas palavras que ficaram famosas no filme Parque dos Dinossauros (o ápice da engenharia genética leiga): “A vida, hum, sempre acha um caminho”.

Grisaldi está completamente atento a este consenso, mas está convencido de que os perigos de seu trabalho são mínimos e pálidos em comparação àqueles criados pelas tecnologia atuais (custos, toxicidade, resistência do mosquito). Crisaldi está apostando que a perspectiva de livrar algumas das pessoas mais pobres do mundo de uma doença que mata aproximadamente 1 milhão de pessoas todo ano irá pesar muito mais que o receio a respeito da liberação de enxames auto-replicantes e geneticamente modificados de organismos voadores. Mas riscos e benefícios parecem diferentes dependendo de onde você esteja sentado. Caso o experimento seja bem sucedido, seus benefícios serão locais. As consequências da disseminação do novo mosquito, nem tanto.

Fonte: The Atlantic

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