EUROPA - A importância do Mediterrâneo na política europeia

Uma crise na região leste do Mediterrâneo aumentou a preocupação dos europeus em relação ao movimento migratório (Foto: Pixabay)

“Tudo que diz respeito ao Mediterrâneo é de profundo interesse para os homens civilizados”, escreveu Edward Forbes, um naturalista do século XIX. O grande mar da Europa ficará em destaque quando Malta, o menor país membro da União Europeia (UE), assumir a presidência do Conselho de Ministros no primeiro semestre de 2017.

Os colegas europeus de Malta na UE nem sempre se interessaram pelo Mediterrâneo. Hoje, o Mediterrâneo pode voltar à cena, mas não por motivos felizes. Se, nas palavras do historiador David Abulafia, o mar era “o lugar mais importante de interação entre sociedades diferentes do mundo”, para a Europa agora só significa perigo e instabilidade. A presidência de Malta atrai a atenção para “os conflitos atuais, os desafios socioeconômicos, o terrorismo, a radicalização e a violação dos direitos humanos” na região do mar Mediterrâneo. Os analistas apontam um “muro de pobreza” no sul da Europa.

A principal fonte de preocupação é, sem dúvida, a migração. Mas isso não é novidade para Malta; de 2002 a 2012, milhares de refugiados de países africanos devastados pelas guerras, como Somália e Eritreia, abrigaram-se na minúscula ilha. Sem estarem preparadas para receber esses refugiados, as autoridades de Malta os colocaram em centros de detenção em condições terríveis. A oferta de solidariedade a Malta por parte de seus parceiros na UE foi decepcionante. Sua relação com a Itália deteriorou-se em razão da responsabilidade sobre os migrantes recolhidos no mar.

Essa situação de conflito mudou graças, dizem, a um misterioso acordo entre a Itália e Malta não reconhecido pelos dois lados. Agora, poucos migrantes ilegais desembarcam em Malta. A rota que atravessa a região central do Mediterrâneo é administrada quase exclusivamente pela Líbia e a Itália. Ainda mais importante, uma crise na região leste do Mediterrâneo aumentou a preocupação dos europeus em relação ao movimento migratório.

A crise dos refugiados de 2015 a 2016, quando mais de 1 milhão de migrantes da Turquia buscaram asilo na Grécia e, em seguida, na Europa, traumatizou os líderes europeus. Atualmente, com o fechamento da rota dos Bálcãs, atravessar a região central do Mediterrâneo é uma opção para chegar à Europa. Em 2016, a Itália acolheu 181 mil refugiados. A diferença é que agora a atenção da Europa está voltada para eles.

É provável que a tarefa mais complexa de Malta na presidência do Conselho de Ministros seja uma questão interna, uma forma de encontrar uma solução de compartilhamento do problema da migração ilegal entre os países da União Europeia. Porém o primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, tem projetos mais ambiciosos. Muscat quer que a UE faça acordos com países africanos semelhantes ao acordo com a Turquia firmado em março de 2016, que diminuiu de uma maneira drástica o fluxo de migrantes para a Grécia. Os detalhes não estão claros, mas Muscat mencionou a possibilidade de criar patrulhas navais conjuntas no norte da África.

Houve menção também a uma ideia antiga de criar centros de processamento de asilo no Egito e na Tunísia. “Estou ciente que são ideias controversas”, disse Muscat. “Mas não há outra opção.” O primeiro-ministro irá apresentar suas propostas em uma reunião de cúpula da UE em Malta no próximo mês.The Economist

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