SOFTWARE CONTRA CORRUPÇÃO

Rosie, o robô que detecta corrupção parlamentar

Rosie já detectou 3.500 casos suspeitos de corrupção parlamentar (Foto: Facebook)

Oito programadores de Porto Alegre (RS) criaram um software que pode ser a mais nova arma conta a corrupção na esfera política brasileira.

A ferramenta é capaz de fazer varreduras em notas fiscais emitidas através do uso da cota parlamentar, identificar se o valor gasto pelo político foi legítimo, ilegal ou superfaturado e até cruzar informações de banco de dados públicos para identificar notas de refeições feitas em cidades diferentes em um curto período de tempo.

O software foi batizado de Rosie, em homenagem a faxineira-robô do desenho animado futurístico Os Jetsons. “Explicamos ao robô, a essa inteligência artificial, o que é um gasto e o que seria suspeito nele. Uma nota de 400 reais em uma padaria, por exemplo, é um valor muito alto e provavelmente ilegal. Mas, se for de um restaurante do chef Alex Atala, não é ilegal, ele é apenas alto e um absurdo para um gasto público”, explicou, em entrevista ao El País, Pedro Vilanova, um dos criadores do software.

Ao longo de três meses, Rosie fez uma varredura nas notas fiscais emitidas desde 2011 por deputados federais. Ela identificou 3.500 casos suspeitos de mau uso da cota parlamentar.

Entre as anomalias detectadas está o caso do deputado Vitor Lippi (PSDB- SP), que pediu reembolso de R$ 135,15 por cervejas compradas nos Estados Unidos, mesmo sendo proibido usar a cota para comprar bebidas alcoólicas. Também foram encontradas anomalias no valor das refeições: a Justiça autoriza o uso da cota apenas para o parlamentar. Porém, em um caso, foram identificadas notas fiscais de um parlamentar que, em um único dia, comprou de 10 pizzas, um almoço de 12 kg em um self-service e pediu um reembolso de quase R$ 1.500 em um restaurante que serve bode assado.

Após a varredura de Rosie, 849 casos foram auditados pelo grupo. Destes, 629 foram denunciados à Câmara dos Deputados. As denúncias questionam um total de R$ 378 mil, pagos com dinheiro de contribuinte, por 2016 deputados.

Algumas denúncias já deram frutos. Lippi teve de devolver a verba gasta com as cervejas. Celso Maldaner (PMDB-SC) teve de devolver o reembolso de R$ 727,78 que recebeu por 13 refeições feitas no mesmo dia, pagas com dinheiro público. Odelmo Leão (PP -MG), eleito prefeito de Uberlândia em 2016, teve de devolver R$ 190,05 que gastou da cota com o envio de correspondência de sua campanha eleitoral. Wherles Rocha (PSDB-AC) teve de devolver aos cofres públicos R$ 148 que recebeu de reembolso por três valores gastos em um mesmo dia, porém um em Rio Branco (AC) e outros dois em Caxias do Sul (RS), a 4 mil km de distância. Marco Maia (PT-RS) teve de devolver R$ 154,50 pelo reembolso recebido por duas refeições feitas no mesmo dia e local, o que é proibido.

O software Rosie faz parte do projeto Operação Serenata de Amor, criado pelo grupo de programadores e batizado em homenagem ao escândalo ocorrido em 1995, que fez a então vice-primeira ministra sueca Mona Sahlin perder o cargo por usar dinheiro público em gastos pessoais com roupas, fraldas, cigarros e um chocolate Toblerone. O escândalo chocou a Suécia e ficou conhecido como “O Caso Toblerone”.

O projeto teve início em 2016. Ele é custeado por financiamento coletivo e, além dos oito programadores, recebe a ajuda voluntária de cerca de 400 técnicos em computação. A primeira parte da operação conseguiu levantar R$ 80 mil e chega ao fim este mês, mas o grupo pretende continuar os trabalhos de varredura nas conta do governo. “Entregamos o que prometemos, entregamos a Rosie. Mas agora queremos aprimorar ainda mais o robô para que os dados sejam ainda mais precisos. Vamos lançar um novo financiamento coletivo. O programa e a operação podem ser replicado a outras esferas, como o Senado e empresas, por exemplo”, diz Vilanova.El País

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