ABUSO SEXUAL / HAITI

Capacetes azuis brasileiros estão entre os acusados de abusos sexuais no Haiti

Pelo menos 134 capacetes azuis do Sri Lanka exploraram nove crianças de 2004 a 2007 (Foto: Pixabay)

As Forças de Paz da Organização das Nações Unidas são mais conhecidas como capacetes azuis. A missão delas é restaurar a ordem nos países em que atuam. No entanto, nem sempre é a paz que estas tropas trazem. No Haiti, o país mais pobre das Américas, muitos capacetes azuis de diferentes nacionalidades ofereciam às crianças biscoitos e alguns trocados. Mas o preço era bem alto, eles exigiam sexo como moeda de troca. E os soldados brasileiros estão entre eles.

Segundo um relatório interno das Nações Unidas, obtido pela agência de notícias Associated Press, pelo menos 134 capacetes azuis do Sri Lanka exploraram nove crianças de 2004 a 2007. Uma menina, identificada no texto como V01 (vítima número um), chegou a dizer que nem tinha seios na época. Ela contou aos investigadores da ONU que dos seus 12 aos 15 anos, ela teve relação com quase 50 capacetes azuis, incluindo um comandante, que lhe deu US$ 0,75.

A Associated Press investigou as missões da ONU durante os últimos 12 anos, o resultado foi cerca de 2 mil casos de abuso e exploração sexual. Mais de 300 acusações envolviam crianças.

Legalmente, as Nações Unidas não têm jurisdição em relação aos capacetes azuis, por isso a organização deixa a punição nas mãos dos respectivos países das tropas. Além da falta de punição dos países, mesmo aqueles que foram considerados culpados acabam sendo mantidos como casos confidenciais. Dos 134 acusados no Haiti, 114 foram mandados de volta para casa, nenhum foi preso.

Em março, o secretário-geral Antonio Guterrres anunciou novas medidas para deter os abusos sexuais. Mas já faz um tempo que as Nações Unidas prometem fazer a mesma coisa.

A vítima número dois, tinha 16 anos quando a equipe das Nações Unidas a entrevistou. Ela disse que teve relações sexuais com um comandante do Sri Lanka pelo menos três vezes. O comandante costumava mostrar para ela a foto de sua esposa.

A vítima número três identificou onze soldados do Sri Lanka por meio de fotografias. A vítima número quatro, que tinha 14 anos, disse que fazia sexo com soldados todos os dias em troca de dinheiro, biscoitos ou suco.

Durante a entrevista com investigadores, a vítima número sete, recebeu uma ligação no celular de um capacete azul do Sri Lanka. Ela explicou que os soldados passavam seu número para outros, que ligavam para ela em busca de sexo. Um menino, a vítima número oito, disse que já teve relações com mais de vinte capacetes azuis do Sri Lanlka. Os soldados tiravam seu nome dos uniformes antes de levá-lo para os caminhões militares.

Segundo a legislação do Haiti, fazer sexo com alguém menor de 18 é estupro. O código de conduta das Nações Unidas também proíbe exploração.

Mas engana-se quem acha que o caso foi exclusivo dos soldados do Sri Lanka. Entre 2004 e 2016, houve cerca de 150 acusações de abuso e exploração sexual por capacetes azuis no Haiti. Os algozes eram do Brasil, Bangladesh, Jordânia, Nigéria, Paquistão, Uruguai e Sri Lanka. Mais países estão envolvidos, mas as Nações Unidas só começaram a revelar suas nacionalidades depois de 2015.

Janila Jean foi uma das vítimas de soldados brasileiros. Quando tinha 16 anos, um capacete azul a chamou com um pão com manteiga de amendoim. Ele a estuprou com uma arma apontada para ela. Janila acabou grávida.

O almirante Ademir Sobrinho, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas do Brasil, disse, em uma conferência em Londres, que na sua tropa não havia casos de estupro, abuso ou exploração sexual. Assim como muitas outras, Janila não denunciou o soldado. Cerca de 12 mulheres entrevistadas pela AP disseram ter medo de serem culpabilizadas pelo crime ou pior ainda, ter de rever seus algozes.ESTADÃO

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