‘Guerra ao Terror’


Ex-funcionário da CIA conta sua experiência na guerra ao terror

Apesar de mal narrado, história tem grande importância para que não ocorra um novo 11 de setembro

Um funcionário da CIA é enviado ao exterior para interrogar suposto terrorista da Al Qaeda. Ele duvida das descrições, mas seus chefes estão convencidos de que estão retendo informações na fonte. Os dois homens são enviados para um outro país para que o suspeito seja submetido a tratamentos mais coercitivos. O funcionário se opõe às práticas e pede que o suspeito seja liberado. A CIA não apoia a opinião do funcionário e o traz de volta para Washington. O funcionário se aposenta. O prisioneiro suspeito é libertado pela CIA.

“The Interrogator: An Education” é a perfeita narração noticiária de fatos do mundo. Mas, tratando-se de um livro, se o esqueleto da história de Glenn Carle é menos do que apenas satisfatório, é culpa apenas do próprio autor. A CIA não permitira que fossem divulgados o nome do detido ou dos países onde ocorreram as interrogações, muito menos especificaria suas medidas coercitivas. A agência inicialmente apagou as cem primeiras páginas do original. O autor passou dois anos em luta com seus antigos empregadores para publicar o livro em sua forma atual. Ainda assim, página a página são marcadas com cortes. Muitas são mais pretas do que brancas.

De fato Carle não é um superespião da ficção. Formado em Harvard, deixou de lado uma segura carreira como banqueiro para se tornar um espião. Suas primeiras experiências foram na Costa Rica e em Burundi, e possui um gosto particular pela toxicidade do Oriente Médio. Os ataques às Torres Gêmeas, em 11 de setembro, o transportaram de um trabalho de mesa para um papel operacional na “guerra mundial ao terror”. Carle foi enviado para interrogar um homem, denominado Captus, em um país que supõe-se ser o Marrocos, com instruções claras para fazer o que for necessário para que o suspeito falasse. Carle acreditava que Captus não pertencia a al Qaeda. Contra sua vontade, Carle e Captus foram enviados para um local ainda mais sombrio, que o autor chama de Hotel Califórnia, em uma parte deserta do que aparenta ser o Afeganistão. No local Captus foi submetido ao ruído, frio e privação de sono.

Entretanto, nem todos os pontos fracos do livro são culpa da censura da CIA. Indevidamente, Carle repete como sofreu com a situação em que se encontrou com Captus, e sobrecarrega o livro com citações de seus autores favoritos. Além da surpreendente baixa avaliação do Islã, fato nada esperado de alguém cujo trabalho exije entendimento dos muçulmanos. Entretanto, a história de Carle é importante de ser contada. Não é a primeira acusação de conduta da administração de Bush, em sua guerra ao terror, mas Carle nos leva ainda mais para o lado negro que já havia sido apresentado antes.

Ao descrever em termos humanos as pressões intoleráveis da época, tenta prevenir outros 11 de setembro e criar mais consciência na população. Os Estados Unidos, segundo ele, descaracterizaram o caráter do seu inimigo, criando uma cultura de medo que levou a subverter suas próprias leis e valores. Toda experiência foi “uma educação”. E, pelo visto, não só para ele.

Fonte: The Economist

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