Pólio até 2012


Vacinação deverá continuar mesmo que objetivo da erradicação seja alcançado em 2012


Plano de erradicar pólio até 2012 pode não se concretizar

A presunção é sempre perigosa. Em 1977, a varíola foi erradicada e – salvo por uma infecção acidental em um laboratório britânico no ano seguinte – essa afirmação sobreviveu ao teste do tempo. Tendo eliminado uma doença viral, às autoridades decidiram que deveriam ser capazes de se livrar de outra: a pólio. A doença, no entanto, se mostrou um oponente mais forte. A meta original da Organização Mundial de Saúde, definida em 1988, era conseguir um mundo livre da pólio em 2000, e se provou ilusória.

O novo prazo determinado pela Iniciativa Global de Erradicação da Pólio (GPEI), o órgão multinacional encarregado de lidar com a doença, é o ano que vem. No dia 20 de julho, no entanto, Sir Liam Donaldson, ex-ministro da saúde britânico e hoje presidente do conselho de um comitê independente de observação que analisa as atividades da GPEI, publicou um relatório que afirma que esse também é um prazo arriscado.

Na verdade, a GPEI fez um belo trabalho. O número de casos de pólio é um mero 1% dos índices registrados em 1988. Mas esse número já se mantém por anos, e combater os últimos casos remanescentes tem se mostrado mais difícil que o esperado.

A pólio é um desafio para países de políticas instáveis e sistemas de saúde fracos. Para conter as epidemias, a vigilância deve estar sempre alerta: o vírus costuma permanecer oculto, paralisando apenas um em cada 200 infectados. Além disso, a vacina é delicada e deve ser mantida sob refrigeração, e a imunização depende de várias aplicações.

Hoje a pólio é endêmica em apenas quatro países: Afeganistão, Índia, Nigéria e Paquistão. No entanto, reapareceu em vários outros e cada país tem seus próprios problemas. No Afeganistão, a GPEI não conseguiu interromper o contágio em 13 distritos arrasados pela guerra. A maior parte da Índia está livre da doença, mas os estados de Uttar Pradesh e Bihar continuam a registrar casos de pólio. Em 2003 e 2004, a Nigéria foi vítima de rumores que afirmavam que a vacina contra pólio esterilizaria as crianças e a infectaria com o vírus da AIDS. E embora no Paquistão a incidência de pólio tenha sido reduzida em dez vezes entre 1995 e 2000, conflitos, falta de saneamento básico e uma população nômade ajudaram o número de casos a ter um crescimento de 62% no ano passado.

Em 2010, a GPEI adotou uma nova estratégia, com o objetivo de interromper a disseminação da doença até 2012. Se, três anos mais tarde, nenhum caso tiver sido registrado, a doença será considerada erradicada. Uma prioridade da nova estratégia é trabalhar cuidadosamente com os líderes locais, para conseguir apoio para a imunização.

Na Ásia, onde os casos de pólio estão concentrados em poucos lugares, a GPEI criou planos específicos para cada um deles. Por exemplo, uma melhor coordenação entre o Afeganistão e o Paquistão ajudaria a controlar a o contágio através da fronteira. Na África, onde o vírus se espalha por uma série de países, a GPEI intensificaria atividades em países como Angola, Chade, Guiné e Mali, onde a pólio reapareceu recentemente. A resposta a novas epidemias seria mais rápida e intensa; a administração de vacinas, mais ampla. E uma nova e mais eficaz vacina oral também ajudaria.

O comitê de Sir Liam é um produto dessa nova estratégia, e agora cumpre seu papel apontando onde outros componentes estão dando errado. Embora a Índia tenha demonstrado progresso, as eleições interromperam o progresso na Nigéria. Já o plano de emergência do Paquistão parece ter tido pouco efeito: o país registrou 54 casos em 2011, o dobro do registrado no primeiro semestre de 2010.

Países onde a pólio reapareceu também estão lutando. O Chade, por exemplo, demorou para por em prática um plano intenso de ação. A estratégia original da República Democrática do Congo era a de concentrar a vacinação em três províncias. No entanto, o contágio se espalhou, e agora uma campanha mais ampla será necessária.

Mais de US$ 8 bilhões foram gastos até agora, e mais de US$ 1 bilhão veio da Fundação de Bill e Melinda Gates. O casal espera que seu investimento pague um grande dividendo. Um estudo recente estima que a erradicação da pólio traria um lucro líquido entre US$ 40 e 50 bilhões entre 1988 e 2035. Mas esses números partem da premissa de que a pólio será erradicada no ano que vem.

Donald Henderson, o médico que comandou a campanha para livrar o mundo da varíola, prevê que mesmo que a pólio seja considerada erradicada, a vacinação terá que continuar, por garantia. Isso aumentaria os custos. Por enquanto, a GPEI está determinada. Mas a campanha de erradicação não pode durar para sempre.
Fonte: The Economist

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