Sagradas escrituras


Livro estará exposto na Biblioteca Britânica

O livro cabe na palma da mão, pesa apenas alguns gramas e começa com palavras familiares através dos tempos: “In principio erat verbum” (No príncipio era a palavra). O texto foi escrito há mais de 1.300 anos, a mão, utilizando tinta feita de carvalho misturado com carbono. Este mês surgiu a notícia de que o Evangelho de São Cuthbert, o mais antigo livro europeu intacto — com a mesma aparência de quando foi feito no final do século VII –, será vendido, no Reino Unido, por £ 9 milhões. Por um tempo ele estará em exibição na Biblioteca Britânica, em Londres, e depois no nordeste da Inglaterra.

O notável não é o preço — embora seja um recorde para um livro religioso, ainda é considerado uma barganha –, nem mesmo o choque de que os fundos vieram de origem filantrópica. A verdadeira questão é o próprio objeto. O evangelho foi encomendado para homenagear St. Cuthbert, um monge bispo eremita, cuja vida e milagres foram estabelecidos pelo Venerável Beda, um cronista medieval. Beda viveu e trabalhou no continente em Wearmouth-Jarrow, um mosteiro onde acredita-se que o livro foi feito por um homem formado na tradição egípcia. Pouco depois, Cuthbert morreu e o livro foi colocado em seu túmulo.

Quando os vikings começaram a invadir o nordeste da Inglaterra, os monges de Lindisfarne fugiram de suas casas com os ossos de Cuthbert vagando, como os israelistas no deserto, até encontrar refúgio em Durham. Em 1104 outro cronista, Simeão de Durham, registra como o caixão de Cuthbert foi aberto em preparação para o novo enterro formal, em outra igreja. Cuthbert não parecia tão morto como dormindo. Seus membros estavam flexíveis e seu corpo “exalava um odor muito agradável”. O livro estava em sua cabeça. Durham se tornou um lugar de peregrinação, e as relíquias de Cuthbert competem com as de Thomas à Becket, em Canterbury.

Enterrado em invólucros de couro, Cuthbert foi protegido da desventura, com a dissolução dos mosteiros do século XVI, que passaram para as mãos dos colecionadores. Em 1769 foi dado aos jesuítas, que colocaram o livro em uma pequena caixa de carvalho na biblioteca da escola de seus aprendizes, Stonyhurst College.

Desde 1970 o evangelho tem sido emprestado por longo prazo para a Biblioteca Britânica. Os jesuítas recebem um grande número de ofertas por ele e temiam sua venda no exterior. “Nós não temos outros livro que tenha esta força, uma impecável associação com um santo principal, inatacável. Este livro não é apenas raro, é único”, explica Scot McKendrick, chefe de história e de estudos clássicos na Biblioteca Britânica, que liderou as negociações para comprar o evangelho.



Fonte: The Economist

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