O último caça pilotado por humanos


F-35 foi o avião escolhido pelo governo para revitalizar esquadrilha dos EUA


Leon Panetta não tem ilusões quanto aos motivos que fizeram com que Barack Obama o levasse da CIA para o Pentágono. Panetta, que substituiu Robert Gates como secretário de defesa no início de julho é enxergado por todos como uma aposta segura. Seu grande feito (além de ter presidido o plano que matou Osama bin Laden) foi sua passagem pelo Departamento de Gestão e Orçamento, que preparou o caminho para o orçamento equilibrado de 1998. No Pentágono, ele herdou de seus antecessores, as diretrizes de um plano para reduzir os gastos militares em US$ 400 bilhões até 2023. Mas a crise fiscal norte-americana (e falta de consenso quanto aos modos de combatê-la) certamente obrigará Panetta a realizar cortes muito maiores que os planejados por Gates.

Isso não é uma boa notícia para o F-35 Joint Strike Fighter, o programa militar-industrial mais caro da história, e a principal empresa envolvida, a Lockheed Martin. Os aviões F-35 devem ser colocados em ação em 2016 e o programa está superfaturado. O Pentágono planeja comprar 2443 F-35 nos próximos 25 anos, com um custo de US$ 382 bilhões. Mas Gates alertou que, embora não achasse que o programa corresse risco de ser cancelado, “o tamanho da compra” teria que ser reduzido.

Depois de vencer um projeto da Boeing, a Lockheed Martin assinou o contrato com o Departamento de Defesa para desenvolver o F-35 em 2001. Era tarefa ambiciosa. A meta era colher enormes ganhos na eficácia substituindo praticamente toda a envelhecida esquadrilha norte-americana com três variações de um mesmo projeto básico. A versão convencional (CTOL) para a aeronáutica, uma versão de decolagem curta e pouso vertical (STOVL) para os fuzileiros navais, e uma versão mais encorpada, para a marinha.

Em janeiro, Gates fez uma série de anúncios, que incluíam o gasto de outros US$ 4,6 bilhões no desenvolvimento, diminuindo a produção inicial de aviões que teriam que ser renovados a altos custos no futuro, e suspendendo por dois anos a versão STOVL por problemas com a estrutura do avião e seu sistema de propulsão. Condenando as falhas no controle de custos, que ele atribuiu parcialmente à falta de disciplina financeira no Departamento de Defesa durante a era Bush, e parcialmente a falhas na execução por parte da Lockheed Martin e seus parceiros, Gates disse que “A cultura do dinheiro infinito que tomou conta do cenário deve ser substituída por uma de cautela”.

O que apavorou os senadores não foram os custos da compra dos F-35, mas sim os custos de operação e manutenção: US$ 1 trilhão durante o tempo de vida útil do avião. O senador John McCain descreve a estimativa como “impressionante”, e o Pentágono acredita que será 1/3 mais caro utilizar o F-35 do que o avião que ele está substituindo. Ashton Carter, chefe de aquisições da defesa diz que isso é “inaceitável e inviável”, e promete cortar esses custos. Um cético McCain diz que quer que o Pentágono examine alternativas ao F-35, caso Carter não consiga cumprir sua promessa.

A Lockheed Martin deveria se preocupar? O F-35 é seu principal produto, e McCain não é o único a reclamar. A responsabilidade fiscal bipartidária e a comissão de reformas nomeada por Obama no ano passado disseram que nem todos os aviões precisam ser invisíveis aos radares, e sugeriu o cancelamento do modelo STOVL e o corte da encomenda pela metade, enquanto o país cortaria sua encomenda pela metade, enquanto o país compraria caças F-16 e F-18 mais baratos para manter os números. Se os Estados Unidos optasse por essa combinação, clientes estrangeiros poderiam seguir pelo mesmo caminho.

O perigo para na Lockheed Martin é que, caso os pedidos comecem a se multiplicar, o F-35 poderia entrar em uma espiral de declínio. Com menos pedidos governamentais, mais caros será comparar cada um deles, e menos atraente será o F-35. Isso já aconteceu com o F-22, uma versão mais cara e sofisticada. Mas, ao cortar o pedido de 750 para 183 aviões, o Pentágono ajudou a elevar o custo do programa por aviões F-22, de US$ 149 milhões para US$ 342 milhões.

Mas o cenário a longo prazo para o F-35 ainda é incerto. Suas caras características devem fazer dele uma peça essencial contra fortes defesas aéreas de países como a China. Mas a crescente vulnerabilidade dos porta-aviões norte-americanos com relação aos mísseis chineses significa que eles operarão bem além do alcance de 1000 quilômetros dos F-35.

Alguns estrategistas militares já acreditam que o trabalho para o qual os F-35 estão sendo adquiridos pode ser mais bem realizado por mísseis de cruzeiro e veículos aéreos controlado à distância. Em muitos casos aviões sem pilotos são mais eficientes: eles não precisam de um piloto que terá que ser mantido vivo ao final da missão, fazendo deles veículos mais rápidos e discretos, que não resultarão na morte de ninguém se forem abatidos. Mesmo os maiores defensores dos F-35 reconhecem que ele será provavelmente o último modelo de caça pilotado por humanos que o Ocidente produzirá.

Fonte: The Economist

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