Reprovados por má gestão


Países que escapam da pobreza nem sempre tornam-se mais pacíficos

A maioria das pessoas pensa conhecer a aparência de um Estado falido. Um exemplo óbvio é a Somália, onde uma epidemia de fome no sul foi formalmente reconhecida pela ONU na semana passada.

De muitas maneiras a região atingida pela fome resume o colapso da autoridade: extremistas controlam estradas e mercados; o governo é impotente fora da capital; estrangeiros fornecem a pouca ajuda que há. Mas nem todos os Estados frágeis ou falidos se parecem com a Somália. Neste mês o Banco Mundial publicou sua lista anual de países por categoria de renda: rico, intermediário ou pobre. Vários países africanos estão em situação melhor do que a Somália; eles elevaram seu nível de renda de pobre a intermediário. Ainda assim, notavelmente, 15 dos 56 países de renda média baixa da lista (i.e. mais de um quarto dos países estudados) também aparecem na lista de Estados frágeis ou falidos. A falência de um Estado, tudo indica, não tem necessariamente a ver com outras desventuras humanas, como a pobreza, por exemplo.

Porque deve importar que um grupo de nações cruzou uma linha arbitrária separando países de renda média e baixa? O grupo é interessante por várias razões. Apesar de seus membros serem semiprósperos quando considerada a renda per capita, eles abrigam uma parcela grande e crescente de pessoas muito pobres. Países de renda média falidos ou frágeis englobam 180 milhões de pessoas do grupo mais necessitado do mundo (aqueles vivendo com menos de 1 US$ por mês). Este montante totaliza 17% do total das pessoas mais pobres do mundo – mais do que os 10% do total da população que vive em Estados pobres mas estáveis. Qualquer um preocupado com a mitigação da pobreza deve encarar esses Estados.

A categoria também cresceu rápido. Estados falidos costumavam ser pobres quase que por definição. Desde 2005, o grupo se expandiu em grande parte graças aos Estados que costumavam ser pobres terem se tornado mais ricos, mas não mais funcionais. Isso aponta para uma ampla lição sugerida pela ascensão deste novo grupo. Lugares indigentes costumam ser caóticos; mas aqueles que se encontram numa posição um pouco melhor não são necessariamente mais estáveis. A violência é mais responsável do que se pensava em manter estes países na pobreza. Ainda assim, países escapam da pobreza, mas nem sempre tornam-se mais pacíficos ao longo do processo.

Como o estudo que fundamenta o Relatório de Desenvolvimento Mundial revela, quase 70% das guerras e conflitos aconteceram no quartil mais pobre dos países nos anos ’60; pouco mais de 10% aconteceram no quartil acima, os países de renda média baixa. No ano 2000, entretanto, isso mudou. A parcela de conflitos no grupo de países mais pobres caiu abaixo dos 40%; a fatia dos países de renda média baixa subiu para mais de 40%. Conflitos estão se tornando mais comuns em países de renda média baixa, e governos fracos apontam para a violência de modo pelo menos tão enfático quando a própria pobreza.

*Texto adaptado por Eduardo Sá

Fontes: The Economist

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