Lulismo supera o chavismo


Nos últimos cinco anos, Lula substituiu Hugo Chávez como modelo a ser seguido pelos presidentes sul-americanos


Até mesmo o mais feroz inimigo do presidente venezuelano Hugo Chávez deve estar desejando a ele uma recuperação rápida da doença trágica que o levou, pela segunda vez em seis meses, ao consultório dos médicos de Havana. Não há como saber quanto tempo ele levará para se recuperar, uma vez que o governo venezuelano mantém os detalhes de sua condição sob o mais absoluto sigilo, de acordo com as piores tradições do Kremlin ou da Coreia do Norte. Mas seus apoiadores não devem se iludir: antes mesmo do homem adoecer, o movimento que leva seu nome – o chavismo – já estava em estado terminal, pelo menos fora da Venezuela.

No seu auge, há cinco anos, Chávez projetou sua “revolução bolivariana”, uma combinação de socialismo autoritário e populismo, como uma força continental. Com presidentes de visões semelhantes em vários países latino-americanos e caribenhos, ele forjou um bloco “anti-imperialista” (leia-se, anti-Estados Unidos). Chávez não apenas usava o toque popular de um comunicador nato, mas também estava armado com quantias quase infinitas de dinheiro do petróleo. Os liberais latino-americanos se assustaram, e Chávez até mesmo provocou Lula, então presidente do Brasil, um esquerdista de tendências mais democráticas, defendendo a nacionalização de ativos brasileiros na Bolívia e no Equador.

Hoje o “anti-imperador” atravessa dificuldades. O resto da América do Sul vive um momento de grande crescimento econômico, mas a Venezuela só agora começa a sair de um período de dois anos de recessão...Sua economia é vítima de uma série decisões erradas. A produção petrolífera está caindo e cortes de energia se multiplicam. Os venezuelanos enfrentam uma inflação galopante e períodos de escassez (óleo de cozinho é o item raro no momento). Caracas se tornou a capital sul-americana de assassinatos. No combate à pobreza, outros países ultrapassaram a Venezuela.

O triunfo do modelo brasileiro

O mais notável deles é o Brasil. A mistura de estabilidade econômica, investimento privado e programas sociais praticados por Lula é a fórmula do momento na região. Essa mudança na hegemonia ideológica é perfeitamente exemplificada na jornada política de Ollanta Humala, que assume a presidência do Peru no dia 28 de julho. Há cinco anos, Humala fez campanha como aliado de Chávez. Na eleição desse ano, ele se declarou convertido ao modelo brasileiro. Nesse meio tempo o Peru se tornou a economia de maior crescimento da América do Sul seguindo políticas de mercado livre e se abrindo para o investimento estrangeiro. As primeiras medidas de Humala sugerem um entusiasmo com a estabilidade econômica. Com sorte, ele também conseguirá agregar outro elemento crucial no sucesso do Brasil: o respeito aos contratos com investidores privados.

O chavismo há muito se mostra um beco sem saída para a América Latina. Já o Brasil conseguiu desenvolver uma social-democracia latino-americana moderna, que une a economia globalizada capitalista com vigorosos esforços para combater as desigualdades sociais. Mas essa abordagem também tem seus limites. O tamanho e a amplitude do Brasil continuam a crescer, de maneiras que não necessariamente beneficiam os mais pobres. A generosidade fiscal dos últimos anos de Lula contribuíram para o superaquecimento econômico. Humala deve atentar para o fato de que a sucessora de Lula, Dilma Rousseff, agora quer investidores privados no controle de portos, rodovias e aeroportos.

Na Venezuela, o chavismo pode sobreviver, com ou sem seu criador: uma dúzia de anos revertendo dinheiro do petróleo na direção dos mais pobres é capaz de comprar a lealdade ferrenha de alguns, embora tenha destruído a economia. Mas a maré da história latino-americana se virou contra Chávez.

Fonte: The Economist

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