CRENÇA NO APOCALIPSE... Fim do Estado Islâmico pode trazer sunitas de volta à realidade

Pregadores em Bagdá dizem que um novo realismo está influenciando as ideias sunitas (Foto: Wikipedia)

O destino de uma pequena cidade na região rural no norte da Síria parece irrelevante, quando confrontado com o ataque de coalizões de diversos países ao principal reduto do Estado Islâmico (Isis), Mossul. Mas poucos lugares são mais centrais para a imagem do Isis. Os jihadistas enaltecem Dabiq como o local, citado em um hádice obscuro, ou nas palavras do profeta Maomé, da batalha do fim do mundo; na visão deles será um confronto apocalíptico entre a fé do autoproclamado califado e os cruzados ocidentais.

A revista online em inglês do grupo terrorista intitula-se “Dabiq” em homenagem à cidade. Dabiq foi o local escolhido pelos jihadistas para decapitar suas vítimas, como Peter Kassig, um funcionário americano de uma ONG de ajuda humanitária, no sopé da colina. À medida que o dia do juízo final se aproxima, observadores relataram que o Isis fortificou Dabiq com 1.200 combatentes.

Por fim, foi apenas uma bravata do Isis. Os jihadistas recuaram diante do avanço de grupos rivais apoiados pelos turcos após apenas um dia de batalha. A escatologia do Estado Islâmico, a doutrina do juízo final e do fim do mundo, sempre foi flexível. Os especialistas veem esse movimento em torno de Dabiq mais como uma forma de recrutamento do que um dogma da fé.

Tradicionalmente, a seita sunita predominante no islamismo, tem apoiado a ordem mundial e não tentado destruí-la. A doutrina do fim do mundo é uma crença dos muçulmanos xiitas, que oferece à minoria xiita reprimida e discriminada uma esperança de redenção final. Na hora predestinada, o 12º imame, que desapareceu em 941 para evitar a perseguição que os déspotas sunitas haviam infligido aos seus 11 antecessores, retornaria como o al-mahdi al-muntadhar, “o salvador esperado”, e derrotaria os opressores sunitas.

Porém, desde que os exércitos ocidentais destruíram a antiga ordem do cerne do islamismo no Iraque, com a substituição de líderes sunitas (uma minoria) por não sunitas (a maioria xiita), a confiança dos sunitas transformou-se em desesperança.

Por sua vez, quando os xiitas iraquianos acostumaram-se ao poder, sua visão apocalíptica diminuiu. “Quando sofremos rezamos para o imame”, disse um motorista de táxi em uma favela xiita de Bagdá, Sadr City.

Depois do fracasso de Dabiq, os jihadistas poderosos renunciarão às suas ideias niilistas? Acontecimentos anteriores sugerem que para alguns o fracasso só fortalecerá suas fantasias. No entanto, muitos sunitas iraquianos estão tão chocados com os vídeos do Isis como tantos outros que acompanham as ações brutais do grupo. Os pregadores em Bagdá dizem que um novo realismo está influenciando as ideias dos sunitas. Talvez seja melhor que o dia do juízo final seja adiado.The Economist

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